Orphaned Land retorna a São Paulo após 11 anos e comanda espetáculo épico, mesmo diante de um público reduzido

Texto: Guilherme Gões

Fotos: Belmilson Santos – @bel.santosfotografia

Abril será um mês agitado para a cena heavy metal paulistana. Nas próximas semanas, a cidade se tornará palco para uma variedade de shows internacionais, abrangendo desde representantes undergrounds como Soen e Exciter até ícones lendários como Bruce Dickinson, vocalista do Iron Maiden, e a banda Megadeth, integrante do “The Big Four”. E para encerrar com chave de ouro, vem a tão aguardada segunda edição do Summer Breeze Brasil, prometendo três dias repletos de energia com mais de 30 atrações imperdíveis.

 

O pontapé inicial deste período intenso ficou por conta da banda Orphaned Land, que se apresentou no Carioca Club, no domingo (7), marcando seu retorno ao Brasil após 11 anos desde sua última visita.

 

Reconhecida como um dos principais expoentes heavy metal do Oriente Médio, o grupo israelense foi fundado em 1991. O conjunto é aclamado por sua música que incorpora uma diversidade de elementos diferentes, incluindo instrumentos tradicionais da cultura judaica, e por suas letras que exploram temas de paz, tolerância e coexistência.

 
  • Show

Sem dúvida, a decisão da produtora Estética Torta de trazer o Orphaned Land ao Brasil foi uma aposta audaciosa. Apesar do talento inquestionável do grupo, infelizmente, ele não desfruta de um reconhecimento massivo no cenário heavy metal, em parte devido a preconceitos em relação a bandas do Oriente Médio. Além disso, considerando o delicado momento político que Israel atravessa devido aos conflitos com a Faixa de Gaza, o show enfrentou o desafio adicional de atrair público. Como resultado, a plateia acabou sendo reduzida, ocupando menos de um terço da capacidade da pista do Carioca Club.

 

Por volta das 18h30, Kobi Farhi (vocal), Matan Shmuely (bateria), Chen Balbus e Idan Amsalem (guitarras) subiram ao palco e iniciaram o set com “The Cave”. Neste momento, houve uma falha no microfone do backing vocal, mas isso não atrapalhou a experiência geral. Logo de cara, Kobi impressionou com sua habilidade excepcional na transição entre vocais guturais e limpos, enquanto Idan demonstrou virtuosismo em seu solo de guitarra. Como resultado, os fãs na pista responderam com um coro energético em ritmo “Hey, Hey”.

Após a introdução, Kobi expressou gratidão pela presença dos fãs após 11 anos, pedindo desculpas pelo longo intervalo desde a última visita ao Brasil, e mencionou o baixista Uri Zelcha, ausente devido a uma recente lesão na coluna. Então, a banda seguiu com “The Simple Man”, trazendo riffs de guitarra com nuances de música oriental.

 

“All Is One”, o principal single do álbum homônimo (e a faixa mais reproduzida do grupo na plataforma Spotify), incendiou o público, que acompanhou o riff inicial ao ritmo de palmas. Para intensificar a performance, cenas do videoclipe foram projetadas no telão de LED da casa. Em seguida, a banda mergulhou no álbum “Mabool”, que celebra duas décadas de lançamento neste ano, com a música “The Kiss Of Babylon”. Esta faixa destacou mais influências do heavy metal tradicional, com guturais e batidas em ritmo “stomp”, além da marcante presença de Kobi, que liderou o pequeno número de seguidores como se estivesse se apresentando para um estádio lotado. Já “Ocean Land (The Revelation)” trouxe novamente passagens de música oriental. 

 

Em uma breve pausa, Kobi fez um emocionante discurso sobre a urgência da paz e união em tempos críticos como os que vivemos, e seguiu com “Brother”, uma música com ritmo mais lento e caracterizada por passagens de piano. Logo depois, “Like Orpheus” proporcionou um dos momentos mais marcantes da noite, acompanhado por uma poderosa projeção de imagens de judeus em Israel, mostrando a conciliação entre a vida religiosa e o amor pelo heavy metal.

O espetáculo continuou com uma série de músicas, incluindo “Let The Truce Be Known”, “Birth Of The Tree (The Unification)”, “In Propaganda” e “All Knowing Eye”. Para encerrar o set regular, a enérgica “Sarapi” agitou a plateia com suas batidas ritmadas de música oriental, levando todos a dançar e pular com Kobi.

 

“Essa era a última música do setlist. Porém, como sou judeu, farei uma pequena negociação com vocês”, brincou o frontman antes de dar início ao bis. Na reta final, os membros do Orphaned Land presentearam o público com “The Beloved’s Cry”, acompanhada por todos iluminando o ambiente com as lanternas de seus celulares, seguida por “Norra el Norra”, cantada em hebraico para encerrar a noite de forma memorável.

 

Orphaned Land entregou um espetáculo memorável, mesmo diante de uma plateia reduzida. O grupo de Israel demonstrou de forma incontestável que a grandiosidade e o impacto de um show não dependem necessariamente do tamanho do público presente.

 

Setlist

The Cave

The Simple Man

All Is One

The Kiss of Babylon (The Sins)

Ocean Land (The Revelation)

Brother

Like Orpheus

Let the Truce Be Known (preceded by Kobi’s chant)

Birth of the Three (The Unification)

In Propaganda (>)

All Knowing Eye

Sapari

In Thy Never Ending Way (Epilogue)

 

Bis:

The Beloved’s Cry

Norra el Norra (Entering the Ark) / Ornaments of Gold