Com show extenso, Peter Hook celebra principais obras de sua brilhante carreira

Curiosamente, a Audio, casa de shows localizada na região da Barra Funda, vem sendo palco para grandes espetáculos de post-punk, atraindo fãs de diferentes gerações. Em junho passado, o clube sediou uma apresentação especial do Interpol, uma das bandas responsáveis pela revitalização do gênero nas décadas de 2000 e 2010, que executou seus dois primeiros álbuns na íntegra.

Já na última terça-feira (27), foi a vez da velha guarda do estilo ser agraciada com o show de Peter Hook & the Light, projeto solo do lendário músico cofundador das icônicas bandas Joy Division e New Order.

Em sua nova turnê, que marca sua quinta passagem solo pelo Brasil, Peter trouxe um setlist especial, executando por completo as coletâneas “Substance”, compostas exclusivamente por singles. Ou seja: um repertório memorável e repleto de sucessos, servindo como um verdadeiro presente para os fãs.

“Noite fria e casa cheia”

Após uma semana de clima agradável na capital paulista, o tempo mudou drasticamente na noite do evento, com os termômetros registrando uma das temperaturas mais baixas do segundo semestre. Mesmo assim, o público compareceu em peso, esgotando todos os ingressos para a apresentação.

A Audio, com capacidade para mais de 3.000 pessoas, teve sua pista e mezanino completamente lotados, resultando até mesmo em certa dificuldade de locomoção nos corredores. Sem nenhum grupo musical escalado para a abertura, coube a uma discotecagem interna animar os fãs, que embalou a pista com uma seleção de nomes clássicos do post-punk das décadas de 80 e 90, como The Cure, The Smiths, Bauhaus, entre outros.

Pontualmente às 22h, os riffs iniciais de “Dreams Never End” anunciaram o início do show. Sob uma decoração minimalista, com o nome da banda exibido em um telão de LED, Peter Hook surgiu no palco vestindo uma roupa extremamente modesta (apenas jeans e uma camiseta branca), acompanhado por sua banda de apoio.

Então, eles deram início à música com energia e precisão. Ainda no primeiro bloco, o público foi presenteado com “Procession” e “Cries and Whispers”, do New Order, além de um cover de “What Do You Want From Me?”, uma faixa de um dos grupos que Peter integrou na década de 1990.

Após uma introdução com faixas variadas, a sessão “Substance” do New Order começou com as marcantes linhas de baixo de “Ceremony”, que soavam quase como guitarras. Bases eletrônicas ganharam destaque em “Everything’s Gone Green”, que trouxe uma batida intensa, quase como uma música techno, fazendo a pista inteira dançar. As passagens de sintetizadores continuaram em “Temptation”, mas foi a habilidade do guitarrista David Potts que se destacou, com um solo muito bem trabalhado.

Potts permaneceu nos holofotes em “Blue Monday”, o maior hit do da primeira parte do setlist, assumindo os vocais enquanto Peter se concentrava em tocar a icônica linha de baixo da canção.

Em “Confusion,” Peter Hook conduziu uma extensão instrumental ao lado do tecladista Martin Rebelski. Na sequência, em “Thieves Like Us,” o guitarrista David Potts voltou aos holofotes, jogando trechos da música para a plateia. O repertório seguiu com “The Perfect Kiss,” “Shellshock,” e “State of the Nation,” que, embora bem recebidas, geraram uma animação mais moderada no público.

No entanto, a euforia voltou com força total durante os hits “Bizarre Love Triangle” e “True Faith,” quando a plateia entoou as letras em uníssono. Assim, Peter e sua talentosa banda encerraram a primeira parte do show em grande estilo.

Após uma pausa de 15 minutos, os músicos retornaram ao palco. Já se aproximava da meia-noite quando a segunda parte do setlist, dedicada ao Joy Division, teve início. Embora a pista da Audio permanecesse lotada, notou-se uma pequena parcela do público deixando o local. O show seguiu com uma mistura de hits e faixas secundárias, como “No Love Lost,” “Komakino,” “These Days,” e “Warsaw”.

Diferente da primeira parte, marcada por músicas mais animadas e dançantes, a segunda parte trouxe um clima mais sombrio e introspectivo. Mesmo assim, o público cantou com emoção clássicos como “She’s Lost Control,” “Transmission,” “Atmosphere,” e a icônica “Love Will Tear Us Apart.”

Um dos pontos negativos da apresentação foi o horário. Por ser um dia útil, tornou-se inviável para alguns acompanhar um show com mais de duas horas de duração que se estendeu pela madrugada. Além disso, a sensação de superlotação na casa prejudicou a experiência geral. Ainda assim, foi uma oportunidade única para o público paulistano ver Peter Hook, aos 68 anos, celebrando o legado de suas maiores contribuições para o mundo da música.

Setlist Dreams Never End

Procession
Cries and Whispers
What Do You Want From Me? (Monaco cover)
Ceremony
Everything’s Gone Green
Temptation
Blue Monday
Confusion
Thieves Like Us
The Perfect Kiss
Sub-Culture
Shellshock
State of the Nation
Bizarre Love Triangle
True Faith

Joy Division
No Love Lost
Komakino
From Safety to Where…?
These Days
Disorder
Warsaw
Leaders of Men
Digital
Autosuggestion
Transmission
She’s Lost Control
Shadowplay
Incubation
Dead Souls
Atmosphere
Love Will Tear Us Apart

Texto: Guilherme Goes
Fotos: Anderson Hildebrando (@andersonh_fotografia)