Quando falamos em grandes festivais no Brasil logo nos vêm à cabeça o consolidado Roça n’ Roll, anualmente realizado em Varginha/MG e reconhecido por reunir nomes de diversos gêneros do Metal, desde o mainstream até o underground, sem distinções.
Em 2016 a festa comemorou sua 18ª edição e contou com os finlandeses do Amorphis como headliners, além de trazer nomes de ponta do metal brasileiro como Torture Squad, Noturnall e Holocausto, por exemplo. Não para por aí, o evento ainda contou com stand’s de merchandising e a tradicional Tenda Combate, que apresentou mais cinco bandas, tudo em mais de 12 horas ininterruptas de festa!
Os shows
O Metal sinfônico do Lyria aqueceu a chegada dos headbangers logo às 15 horas, quando ainda poucas pessoas entravam na Fazenda Estrela. Contudo nada foi empecilho para um show vigoroso e animador para quem chegou mais cedo. No set canções autorais como ‘Light and Darkness’ e ‘Revenge’ se revezaram com o cover de ‘Nemo’, do Nightwish. Entrosamento, bom gosto e boa presença de palco da vocalista Aline Happ marcaram o pontapé inicial.
Lyria: Metal sinfônico para aquecer quem chegava ao festival!
Do “Sinfônico” ao Thrash Metal! O Deadliness veio para trazer muito peso ao cast do evento. Petardos como ‘Sanguinários do Poder ‘, ‘Overdose’ e o cover de ‘Ace of Spades’ (Motorhead) se destacaram nos shows dos mineiros de Itaúna/MG. Tudo reunido com muito vigor e riffs poderosos para divulgar o sexto trabalho, o furioso “Guerreiros do Metal” (2014).
O Heavy Metal tradicional ganhou vez com os paulistas do Barbaria, grupo natural de Mogi Mirin/SP. ‘Under The Black Flag’, que já virou clipe, ‘Cutthroat Island’ e ‘Canção do Marinheiro’ foram apenas algumas faixas que mostraram uma banda afiada, com instrumental encorpada e que aproveitou cada minuto no Roça n’ Roll. E não precisou muito, apenas os músicos mostrarem o que sabem fazer: Metal em sua real essência!
O Concreto veio direto de BH para divulgar seu mais recente trabalho, o EP “Bruto” (2016). Os caras trouxeram Hard Rock pesado e instrumental bem trabalhado, marca da banda ao longo dos anos. Faixas como ‘O chá’ e a nova ‘O anjo da morte’ foram apenas algumas que arrancaram couros da plateia e comprovaram o que muitos já sabiam: o Roça n’ Roll esteve diante de uma banda experiente e que prima por trabalhos de qualidade!
Concreto: experiência de sobra no underground de BH
O Holocausto fez sua estreia no festival e trouxe know-how de gente grande, sendo uma das bandas nacionais mais representativas do cast. O seu som, intitulado de ‘War Metal’, fez uma viagem no tempo com petardos do álbum de estreia “Campo de extermínio”, de 1987, dentre outros. O metal extremo clássico imperou com muito peso, velocidade e garra, consolidados por uma banda “pra lá” de lendária em terras tupiniquins. Alguma dúvida que a escolha foi mais do que correta?
O Thrash Metal do Maverick foi outra grata surpresa, afinal, as canções de seu disco de estreia “The Motor Becomes My Voice” (2015) ecoaram com ferocidade pelos quatros cantos da Fazenda Estrela. Instrumental preciso e boa química com público renderam aos paulistas de São José do Rio Pardo um ótimo show, rodeado de riffs, solos e tudo mais que o Thrash Metal pode oferecer! ‘Disorder’, ‘Karma Extinction’ e ‘Upsidown’ foram alguns das faixas presentes.
Eis que outro ícone do Metal brasileiro deu às cartas, estamos falando do Mythological Cold Towers, banda paulista na ativa há mais de 20 anos. A velocidade do Thrash e o peso do Death deram lugar a atmosfera tradicional do Doom Metal, fiel aposta dos caras. Algumas de suas clássicas faixas como ‘Akakor’ e ‘Vestiges’, arrancaram olhares atentos dos fãs das antigas (eram muitos!) e até dos mais desavisados. Não faltou experiência, presença de palco e bom gosto na hora de se apresentar. Um dos aspirantes a grande destaque da noite!
O Punk Rock foi representado com estilo por outro nome lendário! Uma briga jurídica fez a banda usar “temporariamente” o nome de ‘O satânico Dr.Mao e os Espiões Secretos’, mas sem esconder que se tratavam do ícone Garotos Podres, banda oitentista de Mauá/SP.
Mesclando discurso político com muito bom humor, os caras abusaram de faixas curtas, rápidas e que evidenciam o Punk Rock clássico, direto e sem firulas. Mao, vocalista, é um frontman de destaque e ganhou os holofotes daquela ocasião. Show para banger nenhum botar defeito!
Torture Squad: nova formação para incendiar o Roça n’ Roll
O Torture Squad veio para apresentar aos mineiros a nova formação com Mayara Puertas (vocal) e Renê Simionato (guitarra). O novo line-up trouxe um set mesclado com clássicos e faixas novas, mas sem perder a ferocidade de seu Thrash/Death Metal.
Mayara é dona de uma performance inigualável, com guturais potentes e presença de palco entusiasmada e teatral. Até mesmo as faixas mais antigas representaram com maestria o atual momento da banda, sem dúvida, um dos melhores de toda a jornada. Sorte dos bangers que estavam ali!
Era chegada a vez dos gringos: o Amorphis veio para seu primeiro festival na América do Sul rodeado de expectativas e fãs ávidos para acompanhar a performance dos finlandeses. “Under the Red Cloud”, último disco, foi a pauta de divulgação mesmo com um set list variado e que mostrou diversas fases da banda.
O som recheado de subgêneros do Metal é a principal aposta, que mostra que tudo construído em mais de 25 anos de história e em mais de 10 discos de estúdio não foi por acaso. Uma banda que não deixou a peteca cair e manteve o alto nível do festival, com um som entrosado, autêntico e muito bem estruturado. ‘Sky Is Mine’, ‘Drowned Maid’, ‘My Kantele’ e ‘Death of a King’ foram apenas alguns destaques de um set robusto e contagiante!
Amorphis: atração internacional que manteve o bom nível do festival
Já há alguns anos que o Noturnall tem figurado entre os grandes do Metal brasileiro, tudo após a repercussão de seus discos ‘Noturnall’ e ‘Back to Fuck You Up!’. Para o show no Roça a banda ainda tinha mais um atrativo: o guitarrista Mike Orlando (Adrenaline Mob), que entrou recentemente no lugar de Léo Mancini.
Com time em campo não faltaram hits que ao vivo ganharam a atenção dos bangers! ‘Nocturnal Human Side’, uma das atrações do set, foi acompanhada à risca e mostrou uma banda que vive excelente momento. Aquiles Priester (bateria) está literalmente “voando” enquanto baixo, teclado e guitarra não ficam para trás e concluem um instrumental robusto e muito bem executado ao longo do show!
Se existe uma figurinha carimbada no Roça n’ Roll é o Tuatha de Danann, banda que representa com propriedade o Folk Metal brasileiro. Os mineiros mais uma vez agitaram o público e aproveitaram para trazer faixas do recente disco ‘Dawn of a New Sun’ (2015). E aí, toda a atmosfera que já rondou os shows da banda em edições passadas voltou a imperar em 2016. Músicas cantadas pela maioria, “dançinhas” do público e clima festeiro ao som de guitarras, flautas e muito mais. É dificil mesmo ficar parado ao som ‘Brazuzan’ e ‘Land of Youth’, por exemplo.
Teve até espaço para o Blues e o Rock n’ Roll! E não foi com qualquer um, o Cracker Blues tem na bagagem dezesseis anos de estrada e bons discos de estúdio. O som swingado e suas letras em português arrancaram energia até mesmo do mais exausto headbanger. Arranjos descontraídos e muita diversão ao som de Rock pairaram na Fazenda Estrela, espantando qualquer clima de “fim de festa”. E ainda tinha mais…
Cracker Blues: Rock n’ Roll e Blues em sua real essência
Os cariocas do Hatefulmurder ficaram com a dura tarefa de encerrar o festival após aproximadamente 12 horas seguidas de shows. Para isso apostaram no que de melhor sabem fazer: Thrash/Death Metal visceral, honesto e com ótimas influências. A nova vocalista Angelica Burns comandou com maestria as pesadas ‘Black Chapter’, ‘No Peace for the Wicked’ e já parece ter dado a sua cara na sonoridade da banda. Nem mesmo o cansaço de parte do público e a exaustiva maratona de shows fez com que a banda não mostrasse seu poderio com as inéditas ‘Tear Down’ e ‘Silence Will Fall’!
Roça ‘n’ Roll
Festa de abertura: 27/05, a partir das 22h
Bandas: Grilo à Paisana e In Rock (covers de Deep Purple e Rainbow)
18ª expedição: 28/05, a partir das 13h
Bandas: Amorphis, Torture Squad, Jackdevil, Tuatha de Danann, Noturnall, Mythological Cold Towers, Holocausto, O Satânico Dr. Mao e os Espiões Secretos, Cracker Blues, Hatefulmurder, Concreto, Barbaria, Deadliness, Maverick, Repúdio, Meat, Silence, Masturbator, Lyria e Michel Bacana.
Fotos: Rognelson Dutra
Texto: Reynaldo Trombini