Alguns se dizem ‘frustrados’, mas há muito mais de ‘Hot Streak’ que frustração, é The Winery Dogs – Mike Portnoy, Billy Sheeran e Richie Kotzen – em estado puro e talvez como nenhum outro disco venha a ser. E isso é mais que positivo. É um convite a audição.
O novo álbum do grupo idealizado por Mike Portnoy começa com a porrada ‘Oblivion’, primeiro single do trabalho, que traz o baixista Billy Sheeran à vontade e criativo. A faixa é a mostra de que Billy ‘vai se superar’, mais uma vez, neste trabalho.
A sequência se dá com a adorável ‘Captain Love’. A pegada migra entre um bom rock dos anos 1970, passa pelo torpe ‘sexy’ rock dos anos 1980 e crava raízes em influências como The Allman Brothers Band. É a primeira surpresa do disco certamente, mas fica ainda mais grandiosa e intensa a cada audição. Pode ser encarada como uma boa música de festa, mas é muito além disso.
A faixa que dá título ao disco tem uma pegada pop, numa transmutação de The Who e Grand Funk Railroad – sem seus históricos teclados. Pode soar estranho, mas tem espaço para técnica. É um excelente trabalho de estúdio.
A mistura de peso na bateria de Portnoy, guitarras mais claras e pegada pop chega à ‘Empire’, que tira o ouvinte dos tempos atuais e aos poucos o carrega aos anos 1970 – principal período de influência do brilhante Richie Kotzen.
‘Fire’, contrariando os prognósticos (vide seu nome), é a primeira faixa que ‘desliga’ o disco. Introspectiva, a canção corta propositalmente o ritmo, que volta com mais força em”Ghost Town”. A faixa tem riff forte e ao mesmo tempo tem a sonoridade perfeita de tornar hits, daqueles ‘meio pesados’ e extremamente técnicos, que dominaram as paradas no principio do ano 1990. Não pense que a faixa é datada, muito pelo contrário, Ghost Town é atual e de mensagem rápida.
‘The Bridge’ e ‘War Machine’, seguem a linguagem em técnica, mas sem exageros. ‘Spiral’ é mais uma baixa no ritmo do disco, mas abre espaço para a forte ‘Devil You Know’, que mostra peso e a boa técnica vocal de Kotzen, que flutua em um arranjo visceral com falsetes muito bem impostados em conjuntos vocais que bebem em fontes como Yardbirds e Three Dogs Night.
Os anos 1970 permanecem vivos, de maneira sutil, até o fim do álbum, mas parecem evidenciados no soul de ‘Think it Over’, que chega para ser a grande balada do disco. Definitivamente, esta faixa caberia em qualquer um dos discos solos de Kotzen, pois tem sua assinatura do inicio ao fim.
A saideira de ‘Hot Streak’ vem em ‘The Lamb’, que traz muita técnica por parte de seus músicos, é reflexiva e tenta resumir o trabalho.
Mal comparando, é possível dizer que aconteceu a ‘Hot Streak’ o mesmo que aconteceu com o ‘Get Over It’ do Mr.Big – primeiro disco da banda com Richie Kotzen substituindo Paul Gilbert. Como o Mr. Big em 1999, o The Winery Dogs, hoje, “sofre” e ganha muito com uma participação maior do vocalista e guitarrista em suas músicas. As bases setentistas, as letras que falam diretamente às pessoas, e as passagens por jazz, blues e até fusion da guitarra de Kotzen ficam ainda mais evidenciadas neste trabalho, o que pode causar estranheza a primeira audição, principalmente a quem esperava uma continuação fidedigna do álbum homônimo de estreia, mas com o discorrer das audições o disco ganha tamanho e desenvolve todo o seu potencial.
Aposte, ouça mais de uma vez antes de tirar uma conclusão final.
The Winery Dogs – Hot Streak
“Oblivion”
“Captain Love”
“Hot Streak”
“How Long”
“Empire”
“Fire”
“Ghost Town”
“The Bridge”
“War Machine”
“Spiral”
“Devil You Know”
“Think It Over”
“The Lamb”
https://www.youtube.com/watch?v=cR6YE37R56k