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Texto: Guilherme Gões
Fotos: Paula Cavalcante – @eyeofodin.photo
É impressionante observar como as grandes capitais do Brasil, assim como outras metrópoles na América do Sul, se tornaram pontos cruciais para as turnês de rock, heavy metal e outros gêneros musicais. No passado, bandas e artistas visitavam esta parte do continente, porém, muitas vezes, levava anos, ou até décadas, para que retornassem. Felizmente, uma mudança vem ocorrendo, com grupos voltando com mais frequência, especialmente após o lançamento de novos trabalhos.
Entre os exemplos, é possível citar as bandas Leprous e Riverside, ambas com turnês organizadas pela produtora Overload. Em 2019 e 2022, respectivamente, esses conjuntos percorreram a América do Sul e surpreenderam ao retornar rapidamente após disponibilizarem álbuns inéditos.
Seguindo essa mesma tendência, a banda de metal progressivo Soen fez sua volta à “sudamérica” menos de três anos após sua última visita, desta vez para promover o disco “Memorial”, lançado em 2023. Em São Paulo, a apresentação ocorreu no último domingo (14), no Carioca Club, o mesmo local que abrigou seu último espetáculo.
Fundado em 2010 por membros de outras bandas renomadas, como o baterista Martin Lopez, ex-Opeth, e Steve Di Giorgio, ex-Death e Sadus, o Soen emergiu da fusão de experiências musicais diversas e logo capturou a atenção do cenário heavy metal com seu álbum de estreia, “Cognitive”, lançado em 2012.
Desde então, o conjunto acumulou uma série de discos aclamados pela crítica, incluindo “Tellurian” (2014), “Lykaia” (2017) e “Lotus” (2019). Cada obra da banda é caracterizada por composições inteligentes e bases instrumentais caprichadas.
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Público emocionado comanda apresentação
Na semana anterior, o Carioca Club recebeu a banda israelense Orphaned Land, cuja apresentação, infelizmente, atraiu um público reduzido, não preenchendo sequer um terço da capacidade da casa. No entanto, os fãs compareceram em peso para prestigiar os músicos suecos, demonstrando que os headbangers estão dispostos a comparecer aos shows mesmo em dias de domingo.
Pontualmente às 20h, uma sonora com o poema “Do not go gentle into that good night”, do galês Dylan Thomas começou a ecoar pelos auto-falantes. Logo em seguida, os membros do Soen surgiram no cenário e deram início ao set com “Sincere”, uma das principais faixas de “Memorial”, que se destaca por seus riffs modernos e pelas poderosas passagens vocais do vocalista Joel Ekelöf. Com o término da introdução, o frontman convidou todos os presentes a se juntarem a eles pulando, dando início à música “Martyrs”. Além da impressionante performance dos guitarristas Cody Lee Ford e Lars Åhlund, que protagonizaram um headbanger windmill frenético ao som do riff extremamente animado que marca a canção, a plateia acompanhou com entusiasmo o ritmo das viradas do baterista Martin com palmas, resultando em uma atmosfera intensa.
Em “Savia”, o baixista Oleksii Kobel teve seu momento de destaque no palco ao mandar um pequeno solo em seu instrumento. No entanto, sua performance foi prejudicada por uma falha de microfonia que ecoava nos alto-falantes. Felizmente, o problema foi resolvido e o som prosseguiu durante o restante da música, caracterizada por seus breakdowns impactantes.
Logo após, sonoras foram novamente utilizadas, incluindo barulhos que simulavam uma guerra, anunciando “Memorial”, que apresenta uma abordagem mais voltada para o heavy metal, com riffs cavalgados e a voz de Joel alcançando tons mais extremos. Em contraste, “Lascivious” seguiu com um ritmo mais lento, com o vocalista exibindo uma dança com movimentos que beiravam o sensualismo. Porém, a energia do metal progressivo retornou com força em “Unbreakable”, uma das faixas mais queridas do grupo. Nesse momento, os fãs suecos cantaram de forma apaixonada, quase abafando a voz de Joel com sua empolgação.
Na reta final do show, a breve e emocionante “Ideate” cativou pela sua dinâmica, com Joel cantando a capella enquanto os demais membros da banda se sentavam em uma plataforma, acompanhando-o. Em seguida, veio uma das maiores surpresas da noite – “Jinn”, uma música do álbum “Lykaia” que não havia sido incluída nos repertórios recentes dos shows do conjunto na Europa. Mais uma vez, os fãs se destacaram pela sua participação entusiasmada, entoando em coro e reproduzindo os sons dos riffs de forma sincronizada.
A interação dos seguidores foi igualmente marcante em “Illusion”, quando as luzes do local foram apagadas e o público iluminou o espaço com as lanternas de seus celulares. Para encerrar o set regular, o Soen destacou “Lotus”, indiscutivelmente a faixa mais conhecida e aclamada da carreira da banda.
Após uma breve pausa, os membros da banda retornaram ao palco, cada um com seus próprios gestos simbólicos. Lars chamou atenção ao surgir vestindo uma camiseta da seleção brasileira, enquanto Kobel surpreendeu exibindo uma bandeira da Ucrânia, seu país de origem, que atualmente enfrenta um conflito armado de dois anos. Martin Lopez, o baterista, expressou brevemente sua gratidão pela presença de todos, embora, apesar de sua ascendência uruguaia, tenha optado por não arriscar palavras em espanhol.
Para finalizar a noite com chave de ouro, o quinteto reservou para o bis uma seleção de algumas de suas faixas mais pesadas: “Antagonist”, “Lunacy” e “Violence”. Aqui, o público não resistiu à intensidade dos riffs distribuídos pelas guitarras, reagindo com os os únicos moshpits da noite.
O Soen liderou um espetáculo vibrante, caracterizado pela excelência musical e impressionante diversidade sonora, que transitou desde composições pesadas e extremamente complexas até baladas serenas e bem elaboradas. Enquanto isso, o público demonstrou uma devoção apaixonada, acompanhando cada música com entusiasmo, quase como cânticos religiosos. Que Martin Lopez e companhia continuem na mesma trajetória e não demorem muito para retornar ao Brasil e demais países da América do Sul.
Martyrs
