Monsters of Rock comemora 30 anos com uma maratona sonora para todos os gostos do metal

Texto: Guilherme Gões

Crédito das fotos: Ricardo Matsukawa / Mercury Concerts

No sábado, dia 19, o Allianz Parque — popularmente conhecido como o estádio do Palmeiras — foi palco do aguardado retorno do festival Monsters of Rock. Após dois anos de hiato, o evento matou a saudade dos roqueiros paulistanos, que aguardavam ansiosamente por mais uma oportunidade de celebrar juntos a paixão pelo som pesado. Além de marcar o retorno da marca às atividades, a edição também comemorou os 30 anos de história do festival, apesar da primeira edição ter sido realizada em 1994.

O line up foi inteiramente composto por nomes consagrados do cenário internacional. O público pôde conferir apresentações de gigantes do rock pesado em suas diferentes vertentes, como Stratovarius (power/prog metal), Opeth (doom metal), Queensrÿche, Savatage, Judas Priest e Scorpions (heavy metal tradicional), além do Europe (hard rock). Infelizmente, nenhum grupo nacional foi escalado. 

Histórico

O Monsters of Rock é um festival lendário dentro do universo da música pesada, sendo um dos primeiros eventos de grande porte dedicados ao rock extremo realizados em São Paulo.

A primeira edição aconteceu em 1994, no Estádio do Pacaembu, e trouxe um lineup que mesclava bandas internacionais de peso, como Slayer e Black Sabbath, com expoentes do underground nacional, como Viper e Angra.

O sucesso foi imediato, e o festival passou a ser realizado em outras edições marcantes ao longo dos anos, com headliners icônicos como Iron Maiden, Alice Cooper, Faith No More, Megadeth e Manowar.

Após um longo intervalo de 15 anos, o Monsters of Rock retornou em 2013 com um novo formato, apostando em dois dias de programação e combinando bandas clássicas e contemporâneas. Apesar do sucesso, a marca foi novamente colocada em pausa a partir de 2016, deixando um legado importante na cena de festivais no Brasil.

Em 2023, o festival ressurgiu com força total, tendo o Allianz Parque como palco do seu retorno triunfal. Já em 2025, o espaço foi novamente escolhido para sediar a edição comemorativa de 30 anos desse verdadeiro ícone do rock.

  • Experiência geral e shows

Ainda pela manhã, os arredores do Allianz Parque e da Avenida Francisco Matarazzo já estavam completamente tomados pelos headbangers. Antes mesmo das 10h, horário oficial de abertura dos portões, centenas de fãs caminhavam pelo bairro da Água Branca vestindo camisetas de suas bandas favoritas, enquanto ônibus de caravanas vindos de diversas regiões do estado causavam pequenos congestionamentos nas vias próximas. Apesar do cenário agitado, o clima era de pura celebração e camaradagem. Ambulantes também marcaram presença, oferecendo de tudo um pouco: copos personalizados, camisetas, bandeiras e outros itens colecionáveis.

São Paulo, 19/04/2025 – Monsters of Rock 30 anos. Crédito: Ricardo Matsukawa

Pontualmente às 11h30, os finlandeses do Stratovarius deram início à maratona sonora com seu prog/power metal técnico e melódico. Abrindo com “Forever Free”, o grupo seguiu com hinos como “Eagleheart”, “World on Fire” e “Speed of Light”, levando o público — ainda reduzido, mas extremamente animado — a cantar em coro os refrões épicos e cativantes. Mesmo tocando em um horário considerado ingrato, o vocalista Timo Kotipelto agradeceu o esforço dos fãs, reconhecendo que era muito cedo para um show daquela intensidade. Na reta final, vieram os clássicos “Unbreakable” e “Hunting High and Low” — verdadeiros hinos do power metal nórdico. Diante da resposta entusiasmada da plateia, ficou claro que a banda merecia um espaço mais nobre no lineup, especialmente considerando sua base fiel no Brasil e o fato de já ter sido headliner de palco no Summer Breeze Brasil 2023.

Setlist

Forever Free

Eagleheart

World on Fire

Speed of Light

Paradise

Survive

Eternity

Black Diamond

Unbreakable

Hunting High and Low

São Paulo, 19/04/2025 – Monsters of Rock 30 anos. Crédito: Ricardo Matsukawa

Na sequência, foi a vez dos suecos do Opeth, sendo o nome mais sombrio no Monsters of Rock 2025. Embora já contem com uma base sólida de fãs no país, essa foi a primeira vez que o grupo se apresentou em um grande festival brasileiro — e o desempenho não decepcionou. Em um set conciso de sete faixas, a banda destacou principalmente seu novo álbum, The Last Will and Testament (2024), com músicas como “§1” e “§3”, que mostraram uma forte inclinação para o prog metal, com estruturas complexas e arranjos elaborados, se distanciando do doom melancólico de suas fases anteriores. Clássicos como “In My Time of Need”, “Sorceress” e “Deliverance” também marcaram presença no repertório. Apesar do ar introspectivo, o vocalista Mikael Åkerfeldt surpreendeu com seu bom humor, brincando que para muitos o som deles parecia “um monte de barulho sem sentido — e era exatamente isso que faziam”. Ainda arrancou risos ao se referir ao Opeth como “a atração mais jovem do festival”, apesar de ele já ter 51 anos e a banda ter mais de 30 anos. A apresentação foi uma oportunidade interessante para o público se conectar com uma vertente do metal mais densa e, por vezes, incompreensível.

Setlist

§1

Master’s Apprentices

§3

In My Time of Need

Ghost of Perdition

Sorceress

Deliverance

Já com maior público dentro do Allianz Parque, foi a vez do Queensrÿche dar início à sessão de heavy metal tradicional. Diferente do Opeth, que apostou em um repertório mais voltado às novidades, os norte-americanos optaram por um setlist repleto de clássicos, com foco especial na era Geoff Tate — para a alegria dos fãs mais nostálgicos.

São Paulo, 19/04/2025 – Monsters of Rock 30 anos. Crédito: Ricardo Matsukawa

A banda abriu com a poderosa “Queen of the Reich”, faixa do primeiro EP lançado em 1981, considerada uma verdadeira obra-prima do heavy metal clássico, com sua pegada crua e intensa. Em seguida, veio uma sequência avassaladora de sucessos dos álbuns Operation: Mindcrime, Rage for Order e The Warning, incluindo “Walk in the Shadows”, “I Don’t Believe in Love”, “The Needle Lies”, “Screaming in Digital” e “Eyes of a Stranger”.

Apesar das críticas que o vocalista Todd La Torre costuma receber de alguns fãs mais exigentes, principalmente em relação aos lançamentos recentes da banda, no palco ele mostrou segurança, potência vocal e uma presença marcante. Já os guitarristas Michael Wilton e Parker Lundgren chamaram atenção pelo entrosamento e virtuosismo, entregando solos afiados e riffs com precisão cirúrgica.

Sem dúvida, foi uma performance empolgante e que surpreendeu positivamente até os fãs mais céticos — uma verdadeira aula de heavy metal clássico.

Setlist

Queen of the Reich

Operation: Mindcrime

Walk in the Shadows

I Don’t Believe in Love

WarningT

he Needle Lies

The Mission

Nightrider

Take Hold of the Flame

Empire

Screaming in Digita

Eyes of a Stranger

O Savatage foi o responsável por levar a multidão à primeira explosão de euforia do evento, marcando seu retorno aos palcos após um hiato de 10 anos. Mesmo com a ausência sentida do vocalista e tecladista Jon Oliva — impossibilitado de participar por conta de problemas de saúde decorrentes de um acidente de carro — a banda entregou um espetáculo poderoso.

São Paulo, 19/04/2025 – Monsters of Rock 30 anos. Crédito: Ricardo Matsukawa

Desde o início, Zak Stevens tomou a linha de frente com carisma, correndo até a beirada do palco para cumprimentar os fãs. Em seguida, mergulhou no repertório clássico com “The Ocean”, “Jesus Saves”, “Chance” e “Gutter Ballet” — faixas que equilibram com maestria o peso das guitarras do heavy metal com passagens melódicas de teclado. Foi também o primeiro show do lineup a apresentar um cuidado especial com o aspecto visual, utilizando animações impactantes que acompanharam as músicas durante todo o set. O momento mais tocante veio com “Believe”, quando uma gravação prévia de Jon Oliva surgiu no telão, permitindo que ele participasse com a banda em um gesto simbólico e emocionante. Perto do fim, rolou uma interação divertida com o público: Zak atirou bolas de futebol na plateia, enquanto, durante o clássico “Edge of Thorns”, uma fã empolgada tentou subir ao palco. No fim das contas, foi um show que combinou profissionalismo com carisma e paixão, sendo divertido de assistir.

Setlist

The Ocean

Welcome

Jesus Saves

The Wake of Magellan

Dead Winter Dead

Handful of Rain

Chance

Gutter Ballet

Edge of Thorns

Believe

Sirens

Hall of the Mountain King

Após a dobradinha de heavy metal com Queensrÿche e Savatage, foi a vez dos suecos do Europe apresentarem seu hard rock. Apesar da diferença sonora, a energia da banda manteve o público totalmente engajado. Joey Tempest e companhia chegaram com tudo, abrindo com “On Broken Wings” e “Rock The Night” — faixas vibrantes, marcadas por riffs potentes e refrões contagiantes.

São Paulo, 19/04/2025 – Monsters of Rock 30 anos. Crédito: Ricardo Matsukawa

Na sequência, “Walk The Earth”, “Scream Of Anger” e “Hold Your Head Up” mantiveram o ritmo intenso, com destaque para os solos rápidos e precisos do guitarrista John Norum, que arrancaram aplausos entusiasmados da plateia. Entre uma música e outra, o carismático frontman Joey Tempest interagiu com o público, arrancando risadas ao arriscar alguns palavrões em português para animar os fãs.

O clima ficou mais ameno com “Carrie”, a icônica balada romântica que conquista até os headbangers mais radicais — e também os mais apaixonados, mesmo os que normalmente passam longe do rock. Logo depois, a energia voltou com força total em “Last Look At Eden”, “Superstitious” e “Cherokee”, preparando o terreno para o grand finale com “The Final Countdown”. Mesmo com alguns deslizes do tecladista Mic Michaeli na introdução, o hit levou o Allianz Parque ao delírio, com todos os presentes cantando em uníssono.

O Europe entregou um show repleto de energia, provando que seu hard rock não ficou devendo nada às bandas de heavy metal da noite.

Setlist

On Broken Wings

Rock the Night

Walk the Earth

Scream of Anger

Sign of the Times

Hold Your Head Up

Carrie

Prelude

Last Look at Eden

Ready or Not

Superstitious

Cherokee

The Final Countdown

Ao fim do show do Europe, os telões do estádio exibiram uma emocionante homenagem em vídeo a diversas figuras do rock que faleceram nos últimos 15 anos. Em seguida, foi a vez do lendário Judas Priest subir ao palco — provavelmente a banda britânica de metal mais adorada pelos brasileiros depois do Iron Maiden. Celebrando impressionantes 56 anos de estrada, o grupo mostrou-se mais afiado do que nunca. No repertório, incluíram três faixas de seu mais recente álbum, Invisible Shield (2024): “Panic Attack”, “Crown of Horns” e a faixa-título — todas verdadeiras pancadas sonoras, com uma pegada tão intensa que remete ao thrash metal do Megadeth na época do disco Endgame (2009).

São Paulo, 19/04/2025 – Monsters of Rock 30 anos. Crédito: Ricardo Matsukawa

Mas o que realmente incendiou o público foram os clássicos. Hinos como “You’ve Got Another Thing Comin’”, “Rapid Fire”, “Breaking the Law”, “Love Bites” e “Turbo Lover” provocaram uma catarse coletiva. A banda inteira demonstrou entrosamento impecável, não apenas executando cada nota com maestria, mas também criando uma conexão genuína com os fãs. Os guitarristas Andy Sneap e Richie Faulkner esbanjaram energia e presença de palco, provando que as recentes mudanças no lineup trouxeram novo fôlego à formação. Já o baterista Scott Travis, mesmo com uma expressão um tanto desanimada, entregou uma performance firme e precisa.

E quanto a Rob Halford, o eterno “deus do metal”? Apesar de alguns sinais de cansaço — em certos momentos parecia prestes a desabar no cenário — o vocalista seguiu firme, entregando tudo de si com uma força vital surpreendente. Em “Painkiller”, seus gritos agudos arrepiaram a plateia, evocando os tempos áureos dos anos 1990 e deixando muita gente se perguntando como aquilo ainda é possível. Os efeitos visuais também merecem destaque, com projeções que iam de cenas da Revolução Industrial a elementos sombrios e ícones da cultura heavy metal.

Para encerrar com chave de ouro, a trinca final foi matadora: “Electric Eye”, “Hell Bent for Leather” — com Rob surgindo no palco pilotando sua tradicional Harley Davidson — e a irresistível “Livin’ After Midnight”. O Judas Priest provou, mais uma vez, que ainda carrega a fúria do metal nas veias. Quase seis décadas depois, a chama ainda arde intensamente — e parece longe de se apagar.

Setlist

Panic Attack

You’ve Got Another Thing Comin’

Rapid Fire

Breaking the Law

Riding on the Wind

Love Bites

Devil’s Child

Crown of Horns

SinnerTurbo Lover

Invincible Shield

Victim of Changes

The Green Manalishi

Painkiller

Bis:

The Hellion

Electric Eye

Hell Bent for Leather

Living After Midnight

Após mais de 10 horas de música pesada, coube ao Scorpions — a banda alemã mais bem-sucedida da história do rock — a responsabilidade de encerrar o Monsters of Rock. O show começou com a exibição de um vídeo celebrando os 60 anos de trajetória do grupo, destacando feitos impressionantes como mais de 5.000 shows realizados, mais de 20 turnês mundiais e apresentações em 83 países. Ao final da projeção, Klaus Meine (vocal), Rudolf Schenker (guitarra base), Matthias Jabs (guitarra solo), Paweł Mąciwoda (baixo) e Mikkey Dee (bateria) deram início à festa com “Coming Home”, seguida de “Gas in the Tank”, do mais recente álbum Rock Believer (2022) — uma prova de que os “setentões” ainda sabem compor rock de qualidade.

São Paulo, 19/04/2025 – Monsters of Rock 30 anos. Crédito: Ricardo Matsukawa

Na sequência, veio uma dobradinha potente com duas faixas do álbum Animal Magnetism: “Make It Real” e “The Zoo”. Neste momento, Klaus manteve-se praticamente imóvel no palco, enquanto Rudolf e Matthias, mesmo debaixo de chuva, entregaram um verdadeiro show à parte, correndo e pulando com seus instrumentos como se ainda estivessem na juventude. Felizmente, o frontman se soltou um pouco em “Coast to Coast”, quando empunhou uma guitarra para se juntar aos colegas na clássica faixa instrumental do álbum Lovedrive.

O set ainda contou com um medley especial, reunindo “Top of the Bill”, “Steamrock Fever”, “Speedy’s Coming” e “Catch Your Train” — uma viagem nostálgica pela fase mais psicodélica da banda, marcada pela presença do lendário guitarrista Uli Jon Roth.

A parte central do repertório trouxe uma mistura equilibrada entre faixas mais pesadas, como “Bad Boys Running Wild”, “Loving You Sunday Morning” e “Tease Me Please Me”, e as baladas clássicas “Send Me an Angel” e “Wind of Change”. Esta última teve um momento especial: além de uma alteração no trecho original da letra, ganhou um impacto visual marcante com efeitos que simulavam a queda do Muro de Berlim — cena que arrancou aplausos emocionados da plateia.

Já na reta final, Paweł Mąciwoda e Mikkey Dee tiveram seus momentos de destaque com solos precisos de baixo e bateria, preparando o terreno para o encerramento do set principal com a vibrante “Big City Nights” e a épica “Still Loving You”. Esta última — uma das maiores baladas românticas da história do rock — havia ficado de fora de shows recentes, e foi recebida com entusiasmo pelos fãs. Para afastar qualquer traço de melancolia, o bis veio com força total: “Blackout” e “Rock You Like a Hurricane” incendiaram o palco mais uma vez. Nesta última, um imponente escorpião cenográfico com luzes de LED surgiu como elemento surpresa, tornando o final ainda mais impactante e memorável.

O Monsters of Rock mostrou mais uma vez sua excelência, entregando uma organização impecável e um line-up diversificado, capaz de agradar fãs das mais variadas vertentes do rock. Uma curadoria assim só é possível graças ao envolvimento de quem realmente entende — e respeita — a cultura rock. Que essa celebração continue firme por mais 30 anos, levando alegria aos headbangers de São Paulo e de todo o Brasil!

Setlist

Coming Home

Gas in the Tank

Make It Real

The Zoo

Coast to Coast

Top of the Bill / Steamrock Fever / Speedy’s Coming / Catch Your Train

Bad Boys Running Wild

Send Me an Angel

Wind of Change

Loving You Sunday Morning

I’m Leaving You

Tease Me Please Me

Big City Nights

Still Loving You

Bis:

Blackout

Rock You Like a Hurricane

Confira a cobertura em vídeo com Clinger disponível no canal no Youtube do Heavy Metal On Line