Ruggarü: “A cena de Grindcore nacional é bem tradicional, muito respeitada mundo afora”

O Heavy Metal Online conversou com Davi Ambrósio, vocalista e guitarrista da banda capixaba de Deathgrind, Ruggarü. O grupo é natural da cidade de Iúna e vem divulgando o seu mais recente disco de estúdio, “Bestia ad Mortem”, segundo trabalho. Davi ainda comentou sobre as dificuldades por não estarem localizados em uma das grandes metrópoles brasileiras. Confira!

Heavy Meta Online – O Ruggarü é uma banda nova, com pouco menos de 2 anos de história, entretanto seus integrantes vêm de experiência com outros grupos do cenário nacional. Conte-nos sobre os primeiros passos da banda e como foram moldando a sonoridade em estúdio até a conclusão do trabalho de estreia.

Davi – O Ruggarü surgiu a partir de um ensaio que tive com o baterista Ryan, onde eu o chamei a transformar um projeto de goregrind estúdio que tenho (Sadistic Pathology), em banda, com intenção de pegar shows, etc. Nesse dia por acaso comecei a puxar um riff qualquer e ele veio junto, então decidimos que faríamos um projeto novo. E assim foi!

Sobre o som, quando chamamos outros amigos para tocar, queríamos sair da zona de conforto. Embora eu tocasse guitarra no fim da minha antiga banda, meu instrumento principal sempre foi o baixo. Chamamos o Everton, que era guitarrista, para ser vocal e o Eric, que era baterista, para ser baixista. Foi um desafio em tanto.

O primeiro material foi composto durante dois meses, porque tínhamos um show agendado já e precisávamos de um repertório. Eu tinha riffs gravados e levava as ideias para o ensaio, os caras davam as suas ideias, que davam uma nova cara totalmente diferente da ideia original, isso foi moldando nosso som. Ficamos muito orgulhosos de como ficou o primeiro trabalho, apesar da correria!

Heavy Meta Online – A banda divulga o mais recente trabalho, o disco “Bestia ad Mortem”, de 2024, segundo da discografia. Na visão de vocês, qual o grande ponto forte deste trabalho, se comparado com o seu antecessor, o álbum que leva o nome da banda?

Davi – O segundo disco teve um processo de composição bem diferente do primeiro. No primeiro, a gente ainda não sabia muito bem como o outro trabalhava, além da pressa por ter show marcado. Dessa vez, decidimos que não iríamos usar nada que estivesse engavetado. Iríamos fazer tudo do zero. O Everton (vocal) e o Eric (baixista) acabaram saindo, então o processo ficou comigo e o Ryan mesmo.

Entrávamos para o estúdio e começávamos a experimentar riffs, levadas de bateria e ir montando. Normalmente, a cada ensaio tinha uma música bem encaminhada. Eu ia para casa e fazia uma pré-produção no computador, ia dando uma lapidada nos riffs e íamos discutindo se isso ficou legal ou não. Dessa forma, foi até a última semana antes de gravar, sempre fazendo modificações. Então, para mim, soou um trabalho mais conciso, o tempo hábil para trabalhar ajudou muito. Outra coisa que fizemos também foi usar a lenda do Rougarou (criatura folclórica das histórias de monstros) para criar uma história, que foi se desenvolvendo ao longo do álbum, então podemos dizer que é um álbum “conceitual”.

Heavy Meta Online – Mesmo com pouco tempo de estrada, a banda carrega praticamente 1 disco por ano, o que é raro de se encontrar. Está é uma tendência na discografia da banda? Focar em cada vez mais material novo no menor tempo possível?

Davi – Nós somos meio inquietos e queremos sempre produzir coisas novas! Enriquecer o repertório dos shows e sempre ter novidades. Temos cuidado com a qualidade, para não virar uma fábrica de materiais vazios e sem alma. Quanto a prazos, não estipulamos isso. Estamos com um Way Split em andamento, deve sair pelo meio do ano e pretendemos já começar a compor um novo Full. Acho que precisa haver um equilíbrio entre ficar um tempo muito grande sem novidades e lançar tanta coisa que não dê tempo de as pessoas acompanharem e elas perderem o interesse.

Heavy Meta Online – A própria banda rotula seu som como DeathGrind e podemos considerar como um subgênero do tradicional Grindcore. Como vocês avaliam a cena autoral deste estilo em território nacional? Quais são os grandes nomes deste segmento na visão de vocês?

Davi – A cena de Grindcore nacional é bem tradicional, muito respeitada mundo afora. Em São Paulo existe uma cena maior de Grindcore mesmo, pelas outras capitais rolam eventos de Grind, mas não tão frequentes, e às vezes com cast variados. Apesar de ser uma vertente nichada, o Brasil produz muita coisa boa: Rot (SP), Expurgo (BH), Facada (CE), Baixo Calão (PA), Obitto (SP), Void It (SP), Cäbränegrä (SC) entre várias outras!

Heavy Meta Online – A banda é natural de Iúna, cidade do Sul do Espírito Santo. O fato de vocês não estarem localizados nas grandes metrópoles acaba se tornando um dificultador para a banda? Se sim, como superar esta questão?

Davi – Com certeza. Se formos pensar em um público que entende de fato a proposta da banda e curta esse tipo de som, precisamos ir para Vitória para tocar, no mínimo. Há uns 8 anos atrás havia uma cena metal legal aqui na cidade e, como eu gosto de Grind, sempre trazia bandas do gênero junto com meu brother Juliano. O último evento foi em 2018 e sinto que se perdeu em meio à cena cover de eventos de motociclistas, etc. É algo que precisa ser retomado, e no momento certo faremos isso!

Heavy Metal Online – Recentemente a banda se apresentou ao lado do Gutalax, em Belo Horizonte, um dos berços do Metal nacional. Conte-nos sobre essa experiência e como se deu esta oportunidade.

Davi – Belo Horizonte é uma força da natureza quando se trata de música extrema, bandas que surgem, eventos icônicos e um público insano! Havíamos tocado lá ano passado no festival Grindsgraça 2 e o organizador Igor (Banda Tumor e Coletivo Grindsgraça), que é grande amigo nosso, recomendou ao Gabriel Herege (METALPUNK OVERKILL). Tudo se alinhou perfeitamente e foi uma das noites mais especiais que vivemos enquanto banda!

Heavy Metal Online – Para finalizar, deixe um recado aos nossos leitores e como podem encontrar o mais recente material, além de merchandising da banda.

Davi – Gostaria de agradecer a oportunidade que o HMOL deu para a gente nessa entrevista e dizer que no metal, no punk, no Grind, tem espaço para tudo: política, temáticas de terror e gore, comédia e diversão, mas não pode haver espaço para preconceito e ideologias de ódio. Devemos ser resistência contra a ascensão do nazifascismo no Brasil e no mundo. Parece um discurso óbvio e deveria ser, mas em pleno 2025, infelizmente não é.

No mais, nossos álbuns estão em todas as plataformas digitais. Temos o “Bestia Ad Mortem” em CD Físico com selos pelo Brasil todo e camisetas podem ser adquiridas pelo Instagram da banda @ruggarudeathgrind. Muito obrigado a todos os leitores do HMOL, nos vemos na estrada!

Ouça o novo disco do Ruggarü:

Entrevista: Reynaldo Trombini
Foto destaque: divulgação banda
Foto da entrevista: Leandro Oliveira