Das catacumbas gaúchas aos palcos europeus: o Evilcult se supera com “Triumph of Evil”

Em 2017, quando os gaúchos do EVILCULT lançaram o single de estreia “Under The Sign Of Death”, escrevi algumas palavras sobre a música no meu perfil no Facebook, descrevendo minha sensação ao ouvir este legítimo petardo Speed/Black Metal. No ano seguinte, a banda lançaria o EP “Evil Forces Command”, trazendo mais quatro faixas com a mesma pegada, incluindo um cover para “Victim of Hellfire”, do Cruel Force, uma das influências do duo na época, composto (ou decomposto, como queiram) por Lucas From Hell (guitarra e vocais) e Blasphemer (bateria).

Antes de falar sobre o novíssimo “Triumph of Evil” (2025), seu terceiro álbum, faço questão de revisitar aquelas palavras de oito anos atrás e ver se algo se conecta: “Gravado num antigo mausoléu subterrâneo no interior de Bento Gonçalves, “Under the Sign of Death” exala o cheiro do próprio lúgubre lugar, exalando algo podre, mofado e bestial. Do subsolo ouviam-se apenas gritos abafados, enquanto na rua a noite desabava com uma tempestade como não se via há centenas de anos. Da terra encharcada brotavam mãos decompostas, um sinal claro de que a morte foi inclemente com aqueles que ali jaziam. O ritmo incessante da música soava como se os mortos quisessem sair de suas sepulturas, sob ondas graves de desespero. O chão tremia em meio à névoa que encobria as outrora verdes montanhas do interior gaúcho, agora enegrecidas pelas sombras que brotavam do entorno da parte superior daquele mausoléu cercado de cruzes que se despedaçavam ao encontrar os poucos raios do luar que conseguiam transpassar aquela estranha neblina…”.

Passados estes oito anos, agora somente com Lucas From Hellda formação original, mas muito bem acompanhado por Hell Bordini (guitarra), Speed Lobo-Guará (baixo e teclados, na banda desde 2021) e Filipe Stress (bateria) – os dois últimos ex-JackDevil – o EVILCULT segue sua trajetória em nome do Speed Metal, com faixas que mantém aquela pegada lúgubre descrita acima, mas com uma qualidade sonora muito superior, com a cozinha mostrando-se coesa (o baixista Speed é um monstro desde os tempos do JackDevil) e as guitarras soando inspiradas, com muita melodia (sim) e velocidade. Os vocais de Lucas utilizam aquele famoso agudo da década de 1980, no qual Tom Araya (Slayer)e Schimier (Destruction) usavam com tanto vigor em tempos áureos. As influências de Cruel Force estão lá, lembrando também bandas contemporâneas como Stälker, Bewitcher e Vulture.

O disco foi gravado em junho no Heavy Tracking Studio e produzido em conjunto com o baterista Filipe Stress, responsável também pela engenharia de som, mixagem e masterização. Cabe destacar que o álbum nasceu em meio a um processo um tanto quanto desafiador mas muito comum e prático nos dias atuais: os integrantes compuseram remotamente, cada um em uma parte diferente do país, enfrentando prazos apertados devido a uma turnê europeia já agendada. Tal fator influenciou o resultado, que privilegia uma sonoridade crua e direta, indo direto ao ponto, mas mantendo a qualidade lá em cima.

Bom, o que destacar de um disco tão uniforme? A abertura, com “Diabolical Alchemist”, dá o tom, com guitarras melódicas, velocidade, ótimos solos, vocais agudos e energia ao máximo. A macabra “Midnight Ritual” segue no mesmo ritmo, incluindo bumbos rápidos, viradinhas de tom-tom e o baixo de Speed estalando. Em “Waves of Agony”, o grupo aposta num tema instrumental, destacando o baixo de Speed e os arranjos acústicos. Serve como uma introdução para a cadenciada, atmosférica e por vezes “cavalgada” “The Abyss”, seguida da 100% Speed Metal “Warrior of Doom”. O que chama a atenção aqui é o encerramento, com “Endless Night”, a música mais diferente de todas, com uma pegada que lembra aquelas trilhas sonoras de filmes de terror da década de 80, como Paganini Horror, Trick or Treat, Hard Rock Zombies e afins. Perfeito.

Se você já conhece a banda, sabe o que esperar, e caso ainda não conheça e curte a sonoridade proposta pelo grupo, ouça sem medo. É gratificante ver o quanto o EVILCULT cresceu e evoluiu, e já podemos dizer que saíram direto dos úmidos mausoléus gaúchos para os palcos da Europa, onde iniciarão uma nova turnê nos próximos dias.

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