Patfest 3 celebra a vida de Patricia Kisser, reforça importância dos cuidados paliativos e conta com variedade de atrações em sua terceira edição

Texto: Tiago Pereira / @tiago_pss

Fotos: Anderson Hildebrando – @andersonh_fotografia

Nem mesmo a forte chuva no dia 22 de outubro evitou que o público fosse à Audio para a terceira edição do Patfest, festival beneficente organizado por Andreas Kisser (Sepultura) e família e que celebra a vida de Patricia Kisser, com óbito em 2022 devido ao diagnóstico de câncer de cólon. O evento, que arrecadou fundos para ONGs focadas em cuidados paliativos para pessoas em situação de vulnerabilidade, contou com representantes destas organizações e relacionados ao tema, a apresentação conjunta de Andreas e Serginho Groisman, além de diversas atrações nacionais convidadas, a exemplo de Sandy, Chitãozinho e Xororó, o grupo Os Pitais, André Frateschi, membros das bandas Angra, Kisser Clan e Black Pantera, Dinho Ouro Preto, Chico César, Lobão e muitos outros.

 

O público de uma Audio consideravelmente lotada celebrou o evento de muitas formas, seja exaltando os convidados por um todo, seja cantando clássicos nacionais como “Evidências”, “Mama África”, “Primeiros Erros”, “Tarde de Outubro”, “Sinônimos”, “Pais e Filhos” e outros; e músicas internacionais, a exemplo de “We Will Rock You”, “Pat Sematary”, “The Emptiness Machine”, “If It’s Magic” e afins.

 

Em todas as faixas, Andreas e Yohan Kisser estiveram de alguma forma, seja nas guitarras, violões ou no teclado. Da mesma forma, Julia e Enzo Kisser também participaram em determinados momentos do evento. Houve, inclusive, um bloco destinado a atuações da família, a exemplo da execução de “Membro Fantasma”, por Yohan, um momento vocal de Enzo com um cover de Stevie Wonder e até a participação de Julia na última música da noite. Houve, também, a participação de outros membros da Família Kisser, a exemplo de Alice Usher, em um cover da banda JUICE BOX.

 

 

Introdução à medicina paliativa

O Patfest 3 começou com um vídeo de abertura, gravado pelo oncologista e escritor Drauzio Varella. Ele deu uma contextualização introdutória sobre o que eram os cuidados paliativos e como era a medicina antes e depois da entrada deste conjunto de práticas na área da Saúde. O vídeo, reproduzido no telão principal da Audio, puxou a atenção do público já presente na pista e mezanino do local.

 

Primeiras músicas e a primeira instituição participante

Já o início musical veio com a entrada de Andreas e Yohan Kisser nas guitarras, Dinho Ouro Preto no vocal e os membros do Kisser Clan Amilcar Christófaro (bateria), Renato Zanuto (teclado) e Gustavo Giglio (baixo). Eles tocaram uma versão Metal de “We Will Rock You”, do Queen.

 

Em seguida, foi a vez de Badauí, do CPM 22, assumir o microfone (e outro baterista entrar) para a dobradinha “Tarde de Outubro”, da banda de hardcore melódico que lidera, e um cover de “Pat Sematary”, da lendária banda Ramones.

 

Com o encerramento das músicas em questão, Andreas Kisser anunciou o apresentador Serginho Groisman para apresentar o primeiro projeto relacionado a cuidados paliativos, a Comunidade Favela Compassiva, que atua no Rio de Janeiro. Os representantes presentes no palco agradeceram pela visibilidade dada pelo festival, relembraram a importância que os cuidados paliativos têm para pessoas em situação de vulnerabilidade das comunidades e, por fim, destacaram uma reportagem sobre o tema, no programa Fantástico, em que outros representantes do projeto apareceram para explicar a respeito.

 

Apresentações dos Limas

O momento musical áureo da noite provavelmente foi com a chegada da dupla Chitãozinho e Xororó. Os sertanejos, aclamados da entrada até a saída do palco da Audio, cantaram os sucessos “Brincar de Ser Feliz” e “Evidências”. E foi na segunda música citada, vinda após uma leve brincadeira da dupla ao fingir saída, que o público presente foi ao ápice vocal, acompanhando os dois cantores do começo ao fim da música em questão. Yohan Kisser ainda implementou um ótimo solo de guitarra para ela, tornando aquele momento ainda mais especial.

 

Houve uma continuidade de membros dos Limas com a chegada de Sandy. Tão ovacionada quanto o tio e o pai, a cantora fez questão de agradecer pela presença e relembrar um dos motivos do festival: a celebração do amor. Ela e os musicistas presentes (incluindo Andreas) tocaram um cover de “Come Together”, dos Beatles, e “Aquela dos 30”, single de 2013 da cantora.

 

Mais convidados de destaque

O cantor Chico César foi mais um grande convidado de destaque da noite. Ele, com uma bela guitarra sem headstock, com a presença do produtor musical Sandoval Filho nos teclados e tocando pela primeira vez com Andreas Kisser em um palco, escolheu os sucessos “Mama África” e “Pedrada” para passar grandes mensagens sociais ao público.

 

Dando continuidade ao evento, ainda sob um cover de Beatles, Andreas Kisser repetiu com João Ramalho, filho de Zé Ramalho, a Jam feita recentemente no programa “Caldeirão com Mion”. A música escolhida foi “While My Guitar Gently Weeps”, em que João esbanjou forte potencial vocal diante do instrumental presente.

 

A sessão de Os Pitais

Anna Peixoto Butler, ex-MTV, foi chamada ao palco por Serginho Groisman. Ela introduziu o grupo Os Pitais, banda de artistas voluntários que toca em hospitais e outras instituições que conta com os violões de Andreas Kisser, Yohan Kisser, Kiko Zambianchi,Fred Castro; a voz de André Frateschi; entre outros músicos de base da banda.

 

Anna, antes do começo da sessão acústica do grupo, exaltou Andreas, o festival e a banda Sepultura, relembrando o quanto eles foram afáveis nos anos 1990 devido à atuação de Patricia Kisser para isto. Butler também contou outra história envolvendo os Kisser, no qual a esposa de Andreas, antes de sua passagem, desejava a entrada do marido no grupo e a participação do Os Pitais no Patfest.

 

A música inicial foi “Sinônimos”, de Chitãozinho e Xororó, última que Patricia ouviu  antes de sua passagem. A faixa, sob a voz de Yohan Kisser, se tornou ainda mais emocionante.

Bruna Viola, cantora sertaneja, foi convidada junto ao baixista Wagner Delfini para cantar e tocar “Admirável Gado Novo”, de Zé Ramalho, em outro momento de forte coro do público. Na sequência, o cantor e compositor Leoni aumentou ainda mais a vibe celebrativa do evento ao tocar “Exagerado”, música composta por ele, em parceria com Ezequiel Neves e Cazuza.

 

Outro convidado de peso foi o ator e cantor André Frateschi. Ele, que esteve com os membros originais do Legião Urbana – Marcelo Bonfá e Dado Villa-Lobos – na turnê comemorativa de 30 anos da banda, cantou “Pais e Filhos”, em outro momento de canto coletivo da maioria dos presentes na Audio.

 

Yohan Kisser também tocou “Woman”, de John Lennon. O músico fez questão de relembrar seu aniversário, o de seu irmão, Enzo, e de John, todos em outubro. Em seguida, foi a vez de Kiko Zambianchi assumir o microfone e, junto com seu violão e os membros do Os Pitais, tocou o sucesso “Primeiros Erros (Chove)”.

 

O fim da participação da banda Os Pitais veio da forma mais alegre possível, com uma faixa totalmente dançante: “Dancin’ Days”, gravada inicialmente pelo grupo As Frenéticas e com versões de Lulu Santos, SNZ e outros artistas. Tanto o palco da Audio quanto a pista e mezanino locais viraram uma verdadeira pista de dança, com todos os músicos do grupo em ação, seja no violão, seja nos microfones. André Frateschi foi o que mais se divertiu, chegando a jogar um boné da banda em direção aos presentes. Já Andreas elogiou a todos.

 

Movimento Mãetricia e momentos em família

O festival seguiu com uma das representantes do Movimento Mãetrícia, cuja missão é lutar para que todos tenham uma morte digna e que haja a possibilidade de escolha pela eutanásia, além da celebração da vida. Logo depois, membros da família de Andreas Kisser subiram ao palco para cantar músicas que marcaram e muito o festival naqueles momentos.

 

O primeiro a cantar, chamado por Serginho Groisman, foi Enzo Kisser, filho mais novo de Andreas e Patricia. O apresentador perguntou a ele sobre como foi ver o pai cantar pela primeira vez, no qual respondeu que geralmente dormia nos shows e que começou a acompanhar e ouvir o trabalho do pai, de fato, na turnê de despedida do Sepultura. Junto a Yohan, seu irmão, que assumiu os teclados, Enzo cantou “If It’s Magic”, de Stevie Wonder.

 

Já Yohan foi o próximo a cantar e tocar. Ele escolheu “Membro Fantasma”, faixa que compôs em homenagem à mãe, falando sobre a síndrome homônima, condição que causa sensações de dor em uma região do corpo amputada, ou que não apresenta mais funções. Na reta final da música, ele assumiu a guitarra, enquanto músicos convidados, como Guto Passos (baixo) e Chico Brown (teclados), o acompanharam para uma parte instrumental mais pesada.

 

Andreas, logo depois, chamou Alice Usher, sobrinha que mora em Glasgow, na Escócia, e a jovem Feebie, que assumiu a bateria, para a também emocionante faixa indie “The Ballad of the Dog Who Could Only See in Black and White”, da banda JUICE BOX. Alice impressionou o público com sua voz do início ao fim, sendo muito aplaudida ao final.

 

Comunidade Compassiva e mais grandes nomes

Outra ONG parceira, que foi apresentada no Patfest, foi a Heliópolis Compassiva, que atua com cuidados paliativos dentro da comunidade de Heliópolis, na região do Ipiranga, Zona Sul de São Paulo. Após o vídeo de divulgação do trabalho da organização, duas representantes foram chamadas ao palco para falar mais a respeito do funcionamento e da importância dos cuidados paliativos em comunidades. Muitos dos membros da ONG em questão estavam, também, na pista e, quando exaltados, foram aplaudidos por todos na Audio.

 

No retorno musical, Paulo Xisto, baixista do Sepultura, entrou junto com as integrantes da banda Bruxax, como Emily (guitarra) e Bia Mazarak (vocal), para tocar o cover de “The Emptiness Machine”, um dos mais recentes singles após o retorno da banda Linkin Park. Uma grande surpresa para quem conhecia a faixa. Logo depois, com os membros do Kisser Clan, a volta de Renato Zanuto ao palco e juntos a Egypcio e Román Laurito, vocalista e baixista do Tihuana, veio um poderoso cover de “Manguetown”, de Chico Science e Nação Zumbi, em versão Metal.

 

Outro grande convidado foi Luiz Carlini, guitarrista e compositor famoso por sua atuação com Rita Lee e o grupo Tutti Frutti, para cantar o clássico “Ando Meio Desligado”, do grupo Os Mutantes. Carlini é considerado um grande amigo de Andreas e Yohan, sendo elogiado por eles, inclusive, por fazer os próprios talk boxes.

 

Vitória no SUS e mais ícones nacionais no palco

O penúltimo convidado a falar sobre os cuidados paliativos foi o Doutor Douglas Crispim, médico paliativista do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP). Ele discursou a respeito das doenças da categoria e da importância que os cuidados paliativos têm para que o paciente viva com dignidade. Além disso, Crispim elogiou todos os movimentos e ONGs parceiros do festival e, por fim, relembrou o implemento da Política Nacional de Cuidados Paliativos ao Sistema Único de Saúde (SUS), medida aplicada pelo Ministério da Saúde em maio deste ano para um tratamento mais humanizado dos pacientes em tais condições.

 

Abrindo a reta final do festival, Oswaldo Vecchione, vocalista do Made In Brazil, acompanhado da companheira de banda Solange Blessa e de Théo Werneck na guitarra, cantou “Minha Vida É Rock ‘n’ Roll”, clássico da banda lançado no início dos anos 1980.

 

Em seguida, a cantora Bianca Jhordão, da banda Leela, veio ao palco com uma guitarra rosa sorteada após sua apresentação. Com ela, Bianca tocou “Cherry Bomb”, icônica canção da banda The Runaways, junto a Andreas Kisser em outra guitarra.

 

Lobão foi outro convidado que, após o sorteio, apareceu no palco para cantar “Corações Psicodélicos”, em apresentação enérgica e contando com o acompanhamento fervoroso de parte do público. Logo depois, Paulo Xisto retornou e, desta vez, com a banda ToyShops, com uma música dedicada a Pit Passarell, cantor, baixista e compositor do Viper que faleceu em setembro deste ano devido a um câncer no pâncreas.

 

Já Clemente Tadeu (Inocentes) e Supla fizeram uma verdadeira representação Punk Rock no Patfest. Acompanhados do baixista Bruno Leandro e dos Kisser, eles tocaram “Anarchy in the U.K.”, clássico da banda Sex Pistols que não somente contou com um peso absurdo das guitarras de Andreas e Clemente, como teve uma performance vocal e corporal enérgica do Papito durante a faixa.

 

 

Morte Sem Tabu, reta final do festival e homenagens a Pit Passarell

A última instituição parceira do Patfest envolveu o blog da Folha de S. Paulo Morte Sem Tabu, que é liderado pelas jornalistas Camila Appel, Jéssica Moreira e Cynthia Araújo, e fala sobre o fim da vida. Elas exaltaram Patrícia e reforçaram a admiração que têm pela esposa de Andreas, assim como falaram sobre a formação e desenvolvimento do blog, destacando o período pandêmico causado pela COVID-19.

 

A continuidade das apresentações, já na reta final, veio com a entrada da banda Black Pantera. Charles Gama (guitarra e vocal), Chaene da Gama (baixo e vocal) e Rodrigo “Pancho” (bateria) tocaram “TRADUÇÃO” com Andreas, single do mais recente álbum da banda, “PERPÉTUO” (2024) e que é uma dedicatória de Chaene para sua mãe. A faixa, com uma letra muito linda e ótimo solo de guitarra de Andreas Kisser, não somente deixou o público emocionado, como fez com que todos ligassem seus flashes, em uma “chuva de luzes” que tornou o momento ainda mais bonito.

 

Em seguida, Dinho Ouro Preto voltou ao palco para outro momento emocionante. A organização do Patfest apresentou um vídeo em homenagem a Pit Passarell, com fotos de diversos momentos da carreira do baixista, vocalista e compositor. Pit é irmão de Yves, guitarrista do Capital Inicial, e Dinho esteve para representar a banda neste momento. Emocionado, Dinho reforçou que o evento era para homenagear Patricia Kisser, mas que, mesmo assim, era possível também celebrar a vida de Pit. Ele e outros membros convidados, incluindo PJ, baixista do Jota Quest, apresentaram a música “O Mundo”.

 

Em um momento totalmente Thrash Metal, Andreas Kisser chamou os membros do Angra Felipe Andreoli (baixo), Rafael Bittencourt (guitarra) e Marcelo Barbosa (guitarra); o vocalista do Massacration Bruno Sutter; o retorno do baixista Chaene da Gama; e o guitarrista Jean Patton, do Korzus, para a execução de “Seek and Destroy”, do Metallica, em outro grande momento de interações entre eles e com o público – principalmente vindos de Sutter -. Antes, todos cantaram “Parabéns pra você” para Rafael, aniversariante do dia.

 

Já a última apresentação da noite veio com a entrada de Silvio Alemão (baixo), Paulo Zinner (bateria), Igor Godoy (vocal),  Alexey Kurkdjian (violino) Ale Lima (teclados). Eles, juntos de Andreas e seus filhos, encerraram o evento com “Smoke on the Water”, clássico da banda Deep Purple. Apesar de uma falha na guitarra de Yohan, que não o permitiu tocar o solo principal, o momento final se tornou muito lindo, com o acompanhamento do público e a felicidade exalada por todos os presentes.

 

Eis uma felicidade que reforça a celebração pela vida e mantém o legado de Patricia Kisser vivo, junto a um festival com uma quantidade de atrações que mostra o quão importante ela e os Kisser são até hoje, seja no âmbito musical, seja na conscientização de como a dignidade da vida e da passagem são importantes para todos.