Texto e Fotos: Paula Cavalcanti – @eyefodin.photo
Créditos fotos Fã Clube: Gentilmente cedida pela Caroles / Fã clube Tokio Hotel Brasil
A banda :
O ano era 2000 e a virada do milênio testemunhou o nascimento do movimento emo que se tornaria a identidade de uma geração.
Enquanto o mundo estava preocupado com o temido bug do milênio, boatos acerca do próprio fim do mundo e sem saber o que de fato aconteceria dali pra frente ; em um quarto de alguma casa um quarto de alguma casa em Magdeburg, Bill Kaulitz com apenas 11 anos, sonhava em cantar, estar no palco em grandes cidades e encontrar seu grande amor, talvez sem saber que esses eram os ingredientes necessários para o surgimento de um fenômeno chamado Tokio Hotel.
Do interior da Alemanha para o mundo , os gêmeos Bill Kaulitz ( vocal ) e Tom Kaulitz ( piano, teclado, backing vocal, guitarra e percussão ) se uniram a Georg Listing ( baixo, teclado e backing vocal ) e Gustav Schäfer ( bateria, percussão e backing vocal ) e se tornariam uma referência no gênero que arrebataria uma multidão de adolescentes ao redor do globo.
Bill Kaulitz tinha a sua voz melodiosa e melancólica, um estilo futurista e andrógeno como aliado e combinava perfeitamente com a proposta emo – Bill havia nascido pra isso, ele era a personificação do emo, não há outra forma de descrever esse garoto de cabelos pretos espetados e muito lápis preto em seus olhos escuros e exóticos.
Em 2005 , a banda lançou seu álbum de estreia intitulado: Schrei ( que significa grito em alemão) e já neste álbum existia um dos grandes hits da história da banda que por enquanto seria conhecido apenas pelo público europeu já que o álbum havia sido lançado apenas em alemão.
Em pouco tempo, Schrei alcançou o topo das paradas na Alemanha e na Áustria.
Em 2006, algumas faixas foram regravadas pois a voz de Bill havia mudado com a puberdade. Mas somente em 2007, o álbum ganharia sua versão em inglês e a faixa “Monsoon“ que quase 20 anos depois ainda è cantada a plenos pulmões por multidões de fãs por onde quer que a banda passe abriria as portas do mundo para o quarteto alemão .
Em 2009 , os alemães lançaram o seu terceiro álbum , o segundo em inglês: “Humanoid“ e se consolidou definitivamente como um ícone emo.
O álbum repleto de hits como as faixas “World Behind my Wall“, “Automatic“ e “Darkside of the sun“ foi um marco na carreira da banda. A banda também lançou um DVD, chamado “Tokio Hotel TV: Caught on Camera !“ que documentava o dia a dia da banda.
Em meio aos inúmeros shows agendados e do sucesso estrondoso , os irmãos Kaulitz se mudaram para Los Angeles e somente em 2014, os fãs veriam outro álbum sendo lançado.
“Kings of suburbia“ trazia um Tokio Hotel reinventado que saia dos limites do pop-rock e alternativo para passear pelo synth-pop e eletro pop. O visual de Bill Kaulitz também mudou e voltou a agradar, ele não era mais um garotinho, era um homem com personalidade e, com essa nova roupagem, a banda ressurgiu para os antigos e encheu os olhos dos novos fãs.
Em 2017, o álbum “Dream Machine“ chegou às lojas e plataformas digitais e foi recebido por opiniões divididas pelos críticos que apontaram o uso do auto – tune com um grande ponto negativo. E, então após uma pausa mais longa, em 2022, veríamos um Tokio Hotel amadurecido e mais uma vez repaginado no álbum “2001“ que foi anunciado em uma live no canal do YouTube da banda.
Mais uma vez, Bill Kaulitz que já foi o adolescente emo de Jeans e camiseta, maquiagem preta nos olhos e o rapaz de cabelos curtos vestindo casaco de pele; surge de cabelos longos e loiros, chapéu de glitter rosa e salto alto e mostra o poder de se reinventar!
E por mais que muitos achem essas reviravoltas, assustadoras e surpreendentes, talvez eles não saibam que é justamente isso que mantém os fãs fiéis a banda, que continua arrebatando uma legião de fãs mundo a fora.
Alguns desses aliens ( apelidos carinhoso dos fãs ) se reuniram desde cedo na porta do Vibra São Paulo, no último dia 12 para celebrar o retorno da banda ao Brasil após 9 anos com a “Beyond the World Tour“ que também passou pela América do Norte, México e Latam.
Fã clube Tokio Hotel Brasil
Desde 2010, a banda tem um fã clube brasileiro muito bem organizado que tem até site:
Desde que foi anunciada a turnê, as meninas se organizaram para transformar a passagem dos alemães por São Paulo em um evento inesquecível para a banda e para o público.
Dentre as ações programadas estavam a distribuição de um panfleto escrito “You are home“ que deveria ser erguido durante a execução da faixa “Home“ que está na trilha sonora do reality show “Kaulitz and Kaulitz“ da Netflix onde os irmãos Kaulitz compartilham de forma divertida seu dia a dia na cidade de Los Angeles, o projeto “Beyond the Lights“ onde os fãs colariam um papelzinho no flash da câmera do celular em uma das cores da bandeira do Brasil dependendo do setor em que estivessem para iluminar durante a execução das músicas mais emocionantes e a confecção de ingressos personalizados e bottons.
Tive o prazer de conversar com o pessoal do fã clube e sentir a emoção de todas elas por finalmente estarem pertinho dos seus ídolos após tantos anos e era impossível não se emocionar também já que eis aqui uma fã da banda!
Sim, esta escriba tem coração emo e é claro que sentiu aquele friozinho na barriga estando ali diante de uma cortina preta na frente do palco aguardando o início do show.
Chegada no Vibra:
Cheguei ao Vibra pouco antes das 19h, horário previsto para a abertura dos portões e uma pequena multidão de pais, filhos e filhas já se aglomerava ansiosa; pra mim foi como voltar para 2015 quando eu estava nessa fila. Mas hoje, em 2024, quase uma década depois, vendo um público adolescente com bandeiras, camisetas e faixas na cabeça, parece que os fãs da Tokio Hotel não cresceram. Mas não, os fãs antigos tiveram filhos, estão com eles aqui e é também mérito da banda que até hoje preserva sua identidade e encanta esse público jovem.
O show:
A apresentação estava marcada para as 21 horas e por volta deste horário , uma casa praticamente lotada ameaçava uma contagem regressiva e soltava gritos de emoção e ansiedade. Cerca de 15m após o horário previsto, a cortina se abriu e o nome Tokio Hotel podia ser visto brilhando enquanto os gritos do público chegavam ao volume máximo!
Do you believe it – lieve it …
As primeiras frases da faixa “White Lies“ do album “2001“ começaram a tocar e então Bill Kaulitz surgiu com seu visual preto e rosa brilhante para delírio coletivo. A faixa dançante gravada em parceria com o dueto de eletro pop alemão VIZE tem um refrão que fica na cabeça, põe o corpo pra dançar e entrou com o pé direito na noite. Mas o alvoroço que viria a seguir nem se comparava ao causado pela faixa anterior.
“Automatic” um dos grandes clássicos da banda foi cantada a gritos pela plateia que se espremia na grade ou debruçava nos camarotes com os olhos marejados.
A banda sabe o que faz no palco, transpira carisma e transita de uma faixa para outra de maneira envolvente, mas Bill Kaulitz rouba a cena com facilidade – tudo que ele precisa é ser ele mesmo.
“The Heart get no sleep“ de 2014 veio na sequencia com mais uma mudança de cores e efeitos nos painéis do palco e mais uma vez a plateia estava envolvida na execução perfeita e na voz singular de Bill que dança, toca, pula e desfila no palco com um salto plataforma pink melhor do que eu mesma conseguiria fazer.
A plateia recebe cada faixa com empolgação e não se vê ninguém parado.
É hora de Tom Kaulitz assumir a guitarra enquanto Bill troca de figurino e volta ao palco “armado“ com uma regata arrastão para “Girl Got a Gun“; uma coisa que a banda sabe fazer com maestria é criar canções marcantes e esta faixa confirma tudo isso enquanto resgata um traço mais rock.
Mais uma troca de figurino de Bill e o fã clube poderia ter distribuído lenços para “World behind my wall” quando os celulares se ergueram para iluminar as primeiras notas no teclado e o cantar em coro de uma das canções que carrega em sua essência a alma do movimento emo, com todas aquelas dúvidas, inseguranças e vontade de ir ver o mundo fora de seus muros que habita em todo o adolescente.
…Eu chorei, eles chorara , todos ali presente choraram: essa música conversa com nossas emoções de forma diferente e é uma das composições mais lindas que o ano 2000 já produziu…
Após secar as lágrimas estávamos todos prontos para voltar a dançar loucamente e “Feel it all“ sacudiu a plateia que pulava , gritava e dançava como se estivesse em uma discoteca; Bill, parece ser bastante sensível às reações do público e percebendo o clima festivo pegou o microfone e convidou todos a se abaixarem para que por fim pudessem pular juntos, o público obedeceu e foi uma coisa linda de se ver: Uma explosão de alegria!
A faixa “Home“ foi o momento de fãs e banda se sentirem em casa quando os panfletos “You are home“ foram levantados pelos fãs conforme o fã clube havia combinado. Até eu levantaria o meu se tivesse chego a tempo de ter pego um.
Bill soltou um “isso está lindo“ para a alegria dos fãs que em momento algum se mostraram cansados ou desanimados.
E como todos estavam em casa, era a hora de servir um chá e curtir um momento mais intimista. E foi o que aconteceu:
Bill segura uma xícara com o que segundo ele era chá de gengibre e se diverte conversando com o público. Sorri e faz piada de si mesmo para depois sentar ao lado de seu irmão para as acústicas “Black“ de 2007 e “Just a moment“ que projetou a imagem e a voz da cantora canadense VVaves com quem a banda gravou esta faixa – foi um momento de observar as nuances da voz de Bill e o talento de seu irmão Tom.
Estávamos na metade do show e a energia dominante era a de que o show tinha acabado de começar, quando voltamos ao ano de 2014 com “Run, Run, Run“ e depois viajamos a 2001 com “HIM“, a banda transita entre o passado e o presente com leveza, provando que mesmo com tantas mudanças consegue cativar seu público e que por mais que a estrela seja Bill Kaulitz, Georg e Gustav também aparecem muito bem esbanjando técnica e precisão.
Bill convida o público a cantar em alemão, o que prontamente é aceito com a típica empolgação para a clássica “Spring Nicht“ que curiosamente parece ter sido lançada ontem tamanha força que tem essa canção.
“Easy“ do álbum Dream Machine de 2017 encerra esse período de “calmaria“ e è seguida por “What if “ do mesmo album que è a faixa favorita desta que vos escreve.
E o que eu diria da minha faixa predileta?
Sempre achei essa música agradável, charmosa e de certa forma , algo nela me faz pensar em um desfile de moda , de alguma marca de grife o que combina perfeitamente com o perfil fashion de Bill Kaulitz.
E que música combinaria mais com essa que “Love who loves you back“? Mantendo um clima dançante e equilibrando um set list até aqui muito bem desenhado.
“Darkside of the Sun“ chegou para assinar embaixo do que eu havia pensado sobre esse set list.
A Tokio Hotel acerta mais uma vez e encaixa mais um clássico que agita a plateia incansável enquanto imagens de um jovem Bill Kaulitz e seus companheiros são projetadas. E, olhando para aquelas imagens, cai a ficha de que o tempo passou e uma sensação de que parece que foi ontem que eles e eu éramos apenas adolescentes sonhadores vem à mente e Bill falou sobre isso de forma descontraída dizendo: “Nossa! Eu me sinto mais velho e vocês podem dizer naaaaooo você está do mesmo jeito porque vocês são muito gentis e eu agradeço por vocês estarem aqui depois de tanto tempo e agora vamos tocar nossa última música“.
“Colors of the wind“ um cover da trilha de Pocahontas da Disney caiu muito bem na ideia de que estávamos vivendo algo mágico e que infelizmente estava próximo do fim.
A banda se despediu do seu penúltimo show na América do Sul e do ano e saiu do palco. Mas o maior hino da banda ainda não havia sido tocado e alguém próximo a mim disse: “Falta Monsoon“!
Sim, após uma breve pausa a banda voltou ao palco para a execução da belíssima “Monsoon“ e como se o público não estivesse emocionado o suficiente, uma chuva de papel picado foi lançada sobre nós, dando a impressão que todos estávamos dentro de um grande globo de neve; a minha volta os rostos se voltavam para o alto e todo mundo assim como eu estava guardando aqueles momentos na memória e no coração.
A banda finalmente colocou um ponto final em uma noite mágica com “Runaway“ do mais recente álbum, distribuiu palhetas e baquetas e deixou seu logo iluminado no fundo do palco para que os fãs pudessem fazer uma foto e levar pra casa mais uma recordação.
Considerações Finais:
Os alemães fizeram uma apresentação impecável que reafirmou a identidade da banda e mostrou para quem não sabia, porque eles são ícones de uma geração e que não estão e não ficarão para trás para as gerações futuras.
A Tokio Hotel “trocou de roupa”, se reinventou e caminhou pelo tempo criando tendências, comportamentos, deixando sua marca e certamente terá pela frente muitos anos de sucesso.
Mas você se lembra que eu falei lá no começo que eu me sentia como se tivesse voltado no tempo em que quem estava na fila de um show da Tokio Hotel era eu?
Pois bem, a única coisa que me fez lembrar que o meu tempo já passou foi que lá em 2015 não se viam tantos celulares. Essa nova geração ama seus ídolos com a mesma intensidade que a minha geração, porém os ama através de uma tela.
Durante todo o show lamentavelmente foi raro encontrar alguém que não estava com o celular erguido registrando tudo enquanto eu me preocupava em apenas viver e se não fosse pelo meu trabalho nem teria tirado o celular da mochila.
O fato è que os “aliens“ acompanharam a banda “through the monsoon, Beyound the world till the end of time“ como já diria a letra mas eu espero que quando a banda retornar ( que seja breve ) eles sejam vistos sem uma tela de celular no caminho.
Setlist:
1 – White Lies
2 – Automatic
3 – The heart get no sleep
4 – Girl Got a Gun
5 – World Behind my wall
6 – Feel it all
7 – Home
Acústico:
8 – Black
9 – Just a moment
Set 2:
10 – Run , Run , Run
11 – HIM
12 – Spring Nicht
13 – Easy
14 – What if
15 – Love who loves you back
16 – Darkside of the sun
17 – Colors of the wind ( Disney cover )
Encore:
18 – Monsoon
19 – Runaway