Escarnium eleva o Death Metal brasileiro a outro patamar com “Inexorable Entropy”

Muitas vezes, ao bater o olho numa capa do naipe de “Inexorable Entropy”, já sabemos que virá um disco matador. É algo que não falha. Se a arte é bonita, o disco é bom e Inexorable Entropy, do Escarnium, confirma isso de imediato. A arte de Nestor Carrera antecipa a sensação de colapso que percorre o álbum. O quarto registro de estúdio da banda, lançado pela Everlasting Spew Records em maio deste ano, emerge como uma tempestade de meia hora, dividida em nove faixas que transitam por diversos caminhos e sonoridades.

O processo de gravação, podemos dizer, foi um trabalho internacional. As linhas de bateria foram captadas em junho de 2024 no RMS Studio, em Agudos, interior de São Paulo. Entre julho e setembro, guitarras e baixo ganharam corpo no Escarnium Studio, em Colônia, Alemanha. Em agosto, os vocais foram registrados no Walzwerk Tonstudio, em Weilheim, Alemanha, e em outubro a mixagem e masterização ficaram a cargo de Sergej Dukart no mesmo estúdio. Cada etapa teve a função clara de capturar a essência crua da execução e depois dar-lhe um contorno que preservasse sua brutalidade, soando tudo muito homogêneo.

O resultado é um Death Metal alimentado por blast beats e guitarras guiadas por ótimos riffs de Victor Elian e Alex Hahn, que se movem por passagens complexas, onde a variação cromática mantém o ouvido atento mesmo quando o ritmo desacelera. Estes momentos em que a velocidade se arrasta, quase sludge, criam um contraste entre partes mais rápidas e outras mais “na manha” ou trabalhadas. A bateria de Nestor Carrera incorpora variações rítmicas, mostrando que há espaço para inventividade mesmo dentro de uma moldura tão agressiva. Há também espaço para o baixo de Gabriel Dantas se sobressair de forma precisa, construindo um paredão sonoro feito de aço e concreto. Victor Elian, que além de destilar riffs e solos em profusão, é o responsável pelos vocais, cavernosos e guturais na medida certa. O estilo das guitarras, em alguns momentos, lembra o jeito de tocar do saudoso Fabiano Penna, do Rebaelliun.

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“Fentanyl” é uma intro angustiante. Esta droga, que é uma das principais responsáveis pela crise de opioides nos EUA, tem causado muitas mortes relacionadas ao uso ilícito da substância, cria a ponte perfeita para “Relentless Katabasis”. Na sequência, “Cancerous Abyss” é um legítimo exercício de brutalidade. A faixa-título, “Inexorable Entropy”, funciona como núcleo conceitual, enquanto “Through the Depths of the 12th Gate” deixa entrever passagens quase épicas, enquanto solos pontuais trazem uma estranheza que remete à música clássica. O encerramento com “Pyroscene’s Might” mantém a pressão até o último instante, finalizando um álbum que prima pelo clima angustiante. Para situar o leitor, as atmosferas mais pesadas evocam momentos do Incantation, para citar um exemplo.

Este quarto trabalho do Escarnium segue a excelente safra de lançamentos de 2025. Se os trabalhos anteriores já colocavam o Escarnium como referência do Metal extremo brasileiro, aqui eles ampliam esse status para um território que não conhece fronteiras. No geral, podemos dizer que a banda consegue capturar a essência do Metal extremo sul-americano com uma clareza e sofisticação que os tornam destaque de sua geração. Que venham os shows e um novo álbum na sequência.