“Vamos durar por décadas, podem ter certeza!”
O Project46 é, sem dúvida, uma das bandas brasileiras com maior evidência no cenário nos últimos anos. Tudo porque a banda tem nas mãos dois elogiados discos de estúdio e já carrega na bagagem passagens por grandes festivais e shows no exterior!
Heavy Metal Online – Já há alguns meses a banda divulga seu recente disco “Que Seja Feita a Nossa Vontade” (2014), sucessor do estreante “Doa a Quem doer” (2011). Fale-nos um pouco do processo de composição desse trabalho e aonde a banda mais se destacou em sua visão.
Rafael Yamada – É um prazer responder essa entrevista. Sobre a composição do QSFNV, o que posso dizer é que foi bem natural e democrático. Algumas músicas saíram de jams feitas no estúdio, e outras de idéias que a gente trazia de casa. O mais legal nesse ponto é que todo mundo opina em tudo, eu gosto muito de compor na guitarra, o Caio também faz isso, nunca tivemos nenhum tipo de preconceito na hora de criar e experimentamos tudo que vem na nossa cabeça.
A intenção do disco era ser um disco de metal, extremamente pesado, com letras trabalhadas, muito bem executado e com um nível técnico elevado. Precisávamos de um disco mais extremo e trabalhado que o primeiro, como banda ainda temos muito o que provar. Esse disco também foi uma conquista individual nossa, como músicos estamos em constante evolução. Foi um desafio bem louco gravar esse disco e um maior ainda é executá-lo ao vivo, o que exige a nossa melhor forma o tempo todo.
Heavy Metal Online – Falando ainda dos discos do Project 46, ambos estão disponíveis para audição na íntegra via Internet. Até que ponto esse tipo de “presença” na internet contribuiu para a rápida ascensão do grupo no cenário brasileiro?
Rafael Yamada – A internet atualmente é o principal meio de comunicação com o público. Trabalhamos muito as redes sociais como Facebook e Instagram. Acreditamos que esses são os meios mais eficientes de manter a proximidade com os nossos fãs. Não tenho tanta propriedade para falar sobre o assunto, quem domina e cuida de toda essa área é o Vi, guitarrista.
Disponibilizamos os dois discos na integra para evitar downloads de materiais ripados e de baixa qualidade. Hoje em dia é impossível controlar esse tipo de material e o que nos pareceu mais sensato foi disponibilizar tudo por canais oficiais na melhor qualidade possível. Assim a gente também conseguiu mensurar a quantidade de donwloads do disco.
Heavy Metal Online – Como vocês vêem o futuro do mercado fonográfico em meio a essa avalanche de streaming’s, download’s, dentre outras funções da Internet na divulgação de uma banda?
Rafael Yamada – O mercado está em constante evolução, os CDs foram substituídos pelo MP3 e agora o streaming está substituindo o MP3. A banda precisa se preocupar em disponibilizar os seus álbuns na maioria das plataformas (Deezer, Spotfy etc), além de ter canais ativos no YouTube etc.
“As bandas estão mais preocupadas com a qualidade das composições e gravações”
O futuro do mercado é o streaming, hoje você paga 2,00 e tem acesso a milhões de músicas o tempo todo e em qualquer lugar, desde que esteja conectado a internet. A banda precisa se adaptar ao mercado, não da para lutar contra ele.
Heavy Metal Online – O Metal brasileiro é marcado por algumas bandas que conseguiram mesclar qualidade, reconhecimento e muita longevidade. Temos como exemplos Krisiun, Korzus, Sepultura, dentre outros. Atualmente, devida a boa ascensão do Project 46, vocês se vêem a longo prazo alcançando o mesmo sucesso desses veteranos do underground? Qual o desejo da banda há longo prazo no Brasil?
Rafael Yamada – Claro, está tudo relacionado. As bandas de qualidade têm reconhecimento e duram mais. Citando o Krisiun, o show dos caras impressiona até hoje e os três tocam para c******. Outro exemplo é o Deadfish, os shows estão sempre lotados e a energia dos caras é incrível. Eu respeito demais esses caras.
Para o Project46 eu acredito que teremos o mesmo. Vamos durar por décadas, podem ter certeza. Falando sério, passamos por inúmeras dificuldades e sabemos que isso aqui é a nossa vida. Damos tudo pela banda, estamos aos poucos largando tudo em nossas vidas para atender a demanda da banda que não para de crescer. Vamos sempre compor trabalhos com muita identidade e qualidade, sempre dizendo coisas sinceras que estamos passando em nossas vidas, o público responde e vêm junto porque sabe que é de coração e é verdadeiro.
Por isso acreditamos que a longo prazo vamos quebrar esse preconceito da mídia de tocar metal no radio e na televisão brasileira. Sem passar por cima de ninguém, sem pegar o lugar de ninguém, com muita humildade e respeito, daqui a 10, 20 ou 30 anos, vamos conquistar o nosso espaço e ser uma banda brasileira gigantesca mundialmente famosa. Modéstia à parte, o plano é esse mesmo.
Está na hora do metal brasileiro bater o pau na mesa. A cena ta crescendo para fazer isso daqui a uns anos e esperamos estar no meio do bolo quando isso acontecer.
Heavy Metal Online – O Project 46 tocou recentemente ao lado de Paul Di’anno (ex-Iron Maiden) e Obituary, uma das maiores bandas de Death Metal da história. O que dá para aprender estando ao lado de ícones dessa envergadura, por exemplo?
Rafael Yamada – Que respeito não se compra, se conquista. É muito louco ver o respeito que todo mundo tem com essa galera, ninguém fica “babando ovo” mas todo mundo, todo mundo mesmo, respeita.
Heavy Metal Online – A banda também coleciona apresentações em grandes festivais nacionais, como Maquinaria Fest (2012), Monsters of Rock (2013) e Roça n’ Roll (2014). Atualmente como vocês percebem o cenário nacional no que diz respeito a produção, público e profissionalismo dos envolvidos?
Rafael Yamada – O Maquinaria foi no Chile, foi um dos maiores festivais feitos no país. Uma pena o festival ter acabado. Foi nosso primeiro show internacional e a experiência foi a melhor possível, nunca vou me esquecer. Foi o show mais feliz da minha vida, todo mundo acabou o show chorando.
O Monsters of Rock é gigantesco! A estrutura é animal, tudo impecável. Foi um dos melhores shows do Project46, e acredito que tenha sido o maior publico que já nos apresentamos até hoje.
O Roça n Roll foi um festival que estávamos esperando por um bom tempo, então ficamos muito animados quando fechamos. O Fest não tem o mesmo tamanho dos dois acima, mas tem um publico muito fiel. Lembro de ter feito a apresentação para umas 6 ou 7 mil pessoas.
Sobre a produção, público e profissionalismo, estão todos relacionados. Os festivais de médio e grande porte são super profissionais e têm uma boa produção, o que resulta em ótimos shows. Por esse motivo os festivais têm boa reputação e fideliza o público.
Heavy Metal Online – Em entrevista ao Pólvora Zine, o guitarrista Jean Patton mencionou que a qualidade das bandas no Brasil nunca esteve tão boa. Você concorda? Quais bandas do cenário brasileiro você cita como destaque?
Rafael Yamada – Concordo sim! Antes também tinha, mas hoje em dia existem muitas. A internet ajudou muito nesse ponto, acredito. Outro fator que eu acredito ter influenciado diretamente nessa geração de bandas boas são os bateristas, eles estão representando.
Antigamente era muito mais difícil achar uns caras que tocavam realmente bem, embora eles costumavam a dobrar o chimbal (risos). Piadas à parte, as bandas estão cada vez mais preocupadas com a qualidade das composições e das gravações. Todo mundo já “caiu na real” e percebeu que tem que andar com as próprias pernas, nenhuma gravadora vai aparecer e lançar o disco se você não fizer isso primeiro da melhor forma possível.
As bandas que posso citar são, Jonh Wayne, Worst, Surra, Pay for Mercy, Bayside Kings, Bullet Bane e temos os manos do Matakabra, banda de Recife, que me impressionou pelo peso das músicas e pela qualidade do vocalista. Pode ir no show de qualquer uma dessas bandas, são atrações que valem à pena.
Heavy Metal Online – O Heavy Metal Online agradece pela entrevista. O espaço é seu, deixe seu recado e fale sobre o que esperar do Project46 em 2015!
Rafael Yamada – Eu quero agradecer, só agradecer :).
Primeiro de tudo, o mais importante. Obrigado a quem paga o ingresso e vai no show prestigiar a nossa apresentação. Obrigado Reynaldo Trombini, por ter me procurado para essa entrevista. Obrigado a quem está lendo essa entrevista. Obrigado as marcas que acreditam e apóiam o nosso trabalho – Sennheiser, MCD, D’lucca, Brutal Kill -.
Amor e respeito pela família sempre, acima de tudo. Amor e respeito às amizades sinceras, você sempre vai precisar da sua família na rua. Então escolhe direito. “Mulecada” fiquem longe do álcool, andem de skate que é bem mais divertido.
Sobre o que esperar do Project46: muito barulho! Estamos correndo para fechar os festivais desse ano, programando uma ou duas turnês no sul e uma no nordeste, shows no interior de São Paulo, Minas, norte do Brasil e também estamos começando os trabalhos de composição do terceiro disco.
Temos muito trabalho pela frente, muitos palcos para pular, muita roda para abrir, muito cabelo para rodar, muita galera para conhecer. Quem quiser, pode colar, a gente é tudo família, gente boa, vai ser a maior satisfação conhecê-los pessoalmente.
Um grande abraço à todos.
Assista o clipe de “Caos Renomeado”, faixa do primeiro disco:
Site oficial: www.project46.com.br