Texto: Guilherme Goes
Fotos: André Santos – @andresantos_mnp
No universo do rock, é raro encontrar uma banda que consiga manter sua relevância após realizar uma mudança drástica em sua formação principal. Muitas vezes, grupos acabam perdendo espaço ou até sendo esquecidos quando enfrentam alterações radicais, especialmente na figura do vocalista.
Porém, existem exceções notáveis e o Static-X é um exemplo disso. Após a morte de Wayne Static em 2014, fundador e principal compositor da banda, o grupo fez uma breve pausa. No entanto, em 2018, retornou às atividades com Xer0, uma espécie de ciborgue interpretado por Edsel Dope, cujo visual presta homenagem ao antigo frontman. Desde então, a banda vem mantendo seu legado, e ainda presenteou os fãs com os lançamentos ‘Project: Regeneration Vol. 1’ (2020) e ‘Project: Regeneration Vol. 2’ (2024). Além disso, o quarteto segue realizando turnês domésticas e internacionais.
Infelizmente, os fãs paulistanos nunca tiveram a oportunidade de assistir ao Static-X com Wayne nos vocais. No entanto, após quase três décadas de carreira, a banda finalmente desembarcou na cidade na última quinta-feira (7), apresentando-se no palco da Terra SP. O evento ainda contou com a abertura do Dope, outro nome de destaque no cenário nu metal.
Apesar do hype gerado pela estreia de ambos os grupos no Brasil, a procura por ingressos foi modesta. O público não chegou a preencher metade da pista do clube, e o camarote permaneceu vazio, evidenciando que um local menor, como o Carioca Club ou a Fabrique, teria sido mais adequado para sediar a gig. Essa baixa demanda, no entanto, é compreensível: São Paulo está vivenciando uma verdadeira maratona de shows neste mês, com uma agenda de apresentações de rock que não terá um dia livre até o final de novembro.
Com um atraso de 15 minutos em relação ao horário oficial, o Dope subiu ao palco. O set da banda foi extremamente curto, com apenas seis músicas, incluindo “Blood Money”, “Bring It On”, “Debonaire”, um medley com “Die, Boom, Bang, Burn” e um cover de “You Spin Me Round (Like a Record)”, do Dead Or Alive. A performance capturou a essência do nu metal do final dos anos 1990 e início dos anos 2000, com letras repletas de palavrões e riffs intensos que incitaram os fãs a se jogarem no “bouncer” — uma espécie de mosh pit característico do gênero. Infelizmente, falhas técnicas no microfone de Edsel Dope deixaram os vocais abafados em grande parte do show. Já entre os pontos positivos, vale destacar as animações 3D que preencheram a execução de cada faixa no telão de LED e a presença de palco enérgica dos integrantes, que corriam e pulavam pelo palco, demonstrando vigor absurdo.
Apesar do entusiasmo da banda e da chance inédita de ver o Dope ao vivo, problemas técnicos, o atraso — que consumiu quase metade do tempo de apresentação — e um setlist enxuto, sem faixas importantes como “What About…”, “Slipping Away” e “Everything Sucks”, acabaram tornando a experiência geral decepcionante para muitos fãs.
Assim como no show do Dope, o início da apresentação do Static-X também foi marcado por atraso — dessa vez ainda maior. A banda subiu ao palco às 22h30, meia hora após o horário previsto. Após uma breve introdução em animação que explorava o conceito de “Evil Disco” — o termo que a banda usa para descrever seu estilo musical —, os integrantes Tony Campos (baixo), Koichi Fukuda (guitarra), Ken Jay (bateria) e Xer0 (vocal) iniciaram o set com “Hollow” e “Terminator Oscillator”. Durante esta última, um performer fantasiado como o logo da banda interagiu com o público, trazendo um toque humor em meio à barulheira industrial metal. As faixas, retiradas do primeiro lançamento do Static-X com Xer0 nos vocais, foram bem recebidas, refletindo o respeito do público pelo trabalho atual do grupo, mesmo sem a presença do icônico Wayne Static.
Em seguida, a banda revisitou seu álbum de estreia, apresentando clássicos como “Sweat Of The Bud”, “Wisconsin Death Trip” e “Bled For Days”. O destaque nos vocais de Xer0 ficou evidente em especial nas músicas “Love Dump” e “Fix”, onde sua abordagem gutural trouxe uma agressividade renovada às composições originais. Em “Zombie”, uma animação em estilo “cartoon” old school foi exibida no telão, capturando perfeitamente o espírito da música. Já em “Cold”, houve um momento emocionante de homenagem a Wayne Static, que arrancou aplausos do público.
Na reta final, Tony Campos interagiu brevemente com os fãs, pedindo desculpas pela demora da banda em se apresentar no Brasil, embora ele próprio já tenha vindo ao país várias vezes com outros projetos. O show foi encerrado com os hits “I’m With Stupid” e “Push It”, que levaram os fãs a gastar suas últimas energias no mosh pit, encerrando a noite em alta.
Apesar da energia e do carisma das bandas, um ponto decepcionante foi o repertório enxuto. Tanto o Dope quanto o Static-X possuem discografias extensas e poderiam ter explorado mais faixas marcantes de suas carreiras. Mesmo assim, após o Knotfest 2024 — que trouxe nomes de peso do nu metal como P.O.D., Mudvayne e Slipknot —, o público paulistano demonstrou sua paixão por nomes menos convencionais do movimento, reafirmando que essa vertente do metal ainda tem um público fiel na cidade.
Setlists
Dope
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Blood Money
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Bring It On
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Bitch
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Debonaire
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Die, Boom, Bang, Burn
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You Spin Me Round (Like a Record) (Dead or Alive cover)
Static-X
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Hollow
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Terminator Oscillator
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Love Dump
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Sweat of the Bud
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Wisconsin Death Trip
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Fix
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Bled for Days
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Black and White
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Z0mbie
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Get to the Gone
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I Am
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Cold
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I’m With Stupid
Bis:
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Push It