Review: Drugs Of Faith – Asymmetrical

O trio americano Drugs Of Faith, que conta com o vocalista e guitarrista Richard Johnson (Enemy Soil, Agoraphobic Nosebleed), o baixista Ivan Khilko (Immanent Voiceless) e o baterista Ethan Griffiths (Embra), apresenta seu terceiro álbum, “Asymmetrical”, mantendo a mesma veia grindcore, hardcore e noise rock, que certamente agrada quem curte Pig Destroyer, Anal Cunt, Cripple Bastards, Yautja, Enemy Soil e Blood Duster.

Gravado no Developing Nations por Kevin Bernsten (Magrudergrind, Integrity, Full Of Hell), o sucessor do EP “Decay” (2019) é descrito como “um álbum de rock insano” pelo próprio Bernsten. A produção de fato impressiona, mas nos pouco mais de 20 minutos, divididos em dez faixas, o som estalado do baixo de Ivan Khilko consegue se destacar e seria reverenciado até por figuras como Danny Lilker e Shane Embury.

Sem um tema central, as letras seguem falando sobre política, assuntos sociais e guerras, como na abertura (pós-intro), com “Desert War Eternal”, que traz todos os elementos que compõem a musicalidade extrema e pesada do trio americano. A letra escrita por J.R. Hayes (Pig Destroyer, Enemy Soil) critica a guerra, o imperialismo, a destruição ambiental e a apatia social. A ironia no trecho “nenhuma atrocidade deixada de cometer” destaca a brutalidade e a falta de limites éticos em conflitos armados. Segundo descreve Hayes, a guerra é perpetuada por medo e propaganda e denuncia a glorificação da guerra e das invasões como parte de uma tradição cultural ou nacional.

“Drones”, que critica a apatia da sociedade diante da violência, revela o impacto emocional e psicológico dessa situação, na qual as pessoas se tornam insensíveis ao que acontece ao seu redor. O instrumental vem com ideias adaptadas e rearranjadas de uma música não lançada pelo Enemy Soil. Já “Essential” é um cover do DrDoom (pré-Teethgrinder), com quem o Drugs Of Faith fez shows anos atrás pela Europa.

A midtempo “Gas Mask” trata de uma situação pós-apocalíptica, enquanto “The Void”, com seu hardcore repleto de blast beats e partes dissonantes, aborda a condição humana contemporânea, explorando alienação, consumismo e a busca por significado: “Desprivilegiados e desiludidos, desconectados e distraídos, estamos preocupados apenas conosco mesmos”.

Destaque ainda para o grindcore “The Next 100 Years”, que inclui um arranjo de violão e aborda questões globais de desigualdade e exclusão. A visão pessimista, porém esperançosa, sugere que as pessoas começam a perceber a interconexão global e a necessidade de ação coletiva, mesmo que o tempo para mudanças significativas esteja se esgotando.

Pouco mais de dez anos atrás, o Drugs Of Faith apresentou um cover da clássica “Re-Animation” (Sacrifice) para a série flexi da Decibel Magazine, que assim descreveu o grupo: “pense neles como a banda de noise rock mais amigável do mundo”. Já a No Echo destacou “trechos que saltam para você com uma pegajosidade distorcida que apenas bandas de primeira linha no reino do grind podem criar”. É, se há finesse no grind, o Drugs Of Faith é um destes exemplos e encerra o repertório de um jeito Voivod com a instrumental “Conspiratorial”.
Ricardo Batalha