Nigel Glockler (Saxon): Memórias do Brasil, vida na estrada e um novo álbum a caminho

Nigel Glockler é o lendário baterista do Saxon, uma das bandas pioneiras da New Wave of British Heavy Metal. Com um estilo técnico e poderoso, Nigel entrou para o grupo em 1981, substituindo Pete Gill, e rapidamente se tornou peça fundamental da sonoridade da banda. Desde então, participou da gravação de diversos álbuns clássicos, como Power & the Glory (1983) e Crusader (1984), e segue firme com o grupo até hoje, acumulando mais de quatro décadas de história no heavy metal.

Em uma conversa exclusiva com a Heavy Metal On Line, Nigel compartilhou histórias de estrada, sua visão sobre o atual momento da banda e o que os fãs podem esperar do retorno do Saxon ao Brasil.

Crédito das fotos: Belmilson Santos – @bel.santosfotografia

Entrevista com Nigel Glockler (Saxon)

Por Jessica Valentim – @jessvlntm

Jessica: Como você está se sentindo em relação ao retorno ao Brasil para alguns shows no mês que vem?

Nigel: Ah, vai ser ótimo, estamos animados com isso, de verdade. Estava até comentando com o Marcos agora há pouco… Temos três shows no Japão antes de irmos para o Brasil, então estamos nos preparando para isso. Mas aí comecei a pensar: “Meu Deus, de Tóquio para São Paulo?! É uma viagem e tanto de avião!” (risos) Mas vai ser incrível.

Jessica: Então vocês vão voltar para casa antes?

Nigel: Sim, vamos voltar para casa antes, sim. Eu moro no Texas, nos Estados Unidos.

Jessica: Que legal!

Nigel: E está um calor absurdo aqui no momento, estava comentando isso também.

Jessica: Aqui agora começou a esfriar, mas em maio, durante a temporada de festivais, costuma ser mais quente. Ano passado foi um inferno! (risos) Você tem alguma lembrança marcante das turnês anteriores no Brasil?

Nigel: Ah, sempre foi ótimo. A gente ama tocar no Brasil. Os fãs da América do Sul em geral são incríveis, mas os brasileiros têm uma energia especial. Eu sempre digo nas entrevistas que somos muito gratos aos nossos fãs, porque sem eles a gente não estaria aqui. Acho que muitas bandas não pensam muito nisso, mas a gente pensa sim. Se os fãs querem autógrafos, tentamos atender o máximo possível. Claro, quando tem centenas de pessoas, fica difícil, né? Mas a gente realmente valoriza muito os fãs. São eles que fizeram nossa carreira acontecer.

Jessica: Aqui no Brasil o pessoal é muito apaixonado, então provavelmente vocês vão encontrar fãs no aeroporto – eles sempre descobrem em que hotel a banda está!

Nigel: Eu sei! Sempre fico me perguntando: como eles descobrem em qual voo estamos?

Jessica: Quem que tá passando essa informação para eles, né?! (risos)

Nigel: Exato! Da última vez que estivemos aí, tinha fã em todo aeroporto por onde passamos. É impressionante.

Jessica: Acho que eles ficam lá esperando com fé, tipo “vai que cola” (risos). E o que você está mais ansioso em relação ao Bangers Open Air? É o maior festival de metal do Brasil.

Nigel: Sério? Que legal! Acho que nunca tocamos nesse festival antes, então estamos realmente empolgados. A gente costuma fazer um set que abrange toda a nossa carreira — músicas do álbum mais recente, clássicos dos álbuns anteriores… Criamos uma atmosfera de festa mesmo, que é o espírito de um festival.

Jessica: Com certeza. E já que estamos falando disso, qual é sua música favorita do Saxon para tocar ao vivo? Aquela que você sempre espera no setlist?

Nigel: Nossa… Essa pergunta é como escolher um álbum favorito! (risos) Mas tenho curtido muito tocar as músicas mais novas ultimamente. Tem canções que a gente tem que tocar sempre, porque são as mais esperadas, né? Mas depende muito do país também. Por exemplo, na América do Sul todo mundo ama “Ride Like the Wind”, é um clássico aí. Em outros lugares, nem tanto, o pessoal prefere algo mais pesado. Mas estou animado com as músicas do novo álbum. O público vai ouvir um pouco de tudo, desde os primeiros álbuns até agora.

Jessica: E como é a experiência de tocar em um festival open air em comparação com shows em teatros ou clubes, do seu ponto de vista ali atrás da bateria?

Nigel: Ah, é um pouco diferente. Geralmente em festivais a gente usa equipamentos alugados, porque são shows avulsos e a logística muda. Quando estamos em turnê mesmo, levamos nosso próprio equipamento. Mas hoje em dia as empresas de aluguel são ótimas, então não costumo ter problema. Na década de 80 era um pesadelo — uma vez na Itália, tive que montar um suporte de tom usando andaime porque o suporte original quebrou! Mas enfim, em festival temos mais liberdade no setlist, não precisamos focar só no álbum novo. E do meu ponto de vista como baterista, é uma delícia olhar e ver aquele mar de gente — isso me dá uma energia absurda!

Jessica: E sobre o equipamento alugado, você costuma levar algo seu, tipo pratos ou algo assim?

Nigel: Bom, sou apoiado pela Paiste, então normalmente consigo bons pratos por meio deles. A gente manda um “rider” com tudo o que a empresa precisa providenciar. Mas sempre levo meus pedais de bumbo, baquetas e o mais importante: o suporte do chimbal para o lado esquerdo, porque uso bumbo duplo e, sem isso, o espaço entre os pedais fica ridículo! Com o suporte certo consigo manter os pedais próximos. Então, no fim das contas, sou o cara mais barato da banda para voar (risos). Os outros levam guitarra, baixo…

Jessica: Tem alguma música particularmente desafiadora para você tocar ao vivo?

Nigel: Na última turnê a gente tocou o álbum Wheels of Steel inteiro, e para baterista aquilo é puxado. São várias músicas rápidas em sequência, bumbo duplo o tempo todo… No começo foi puxado, mas depois entrou no ritmo. Qualquer música muito rápida com bumbo duplo exige bastante foco e energia.

Jessica: E o que você faz para se manter bem física e mentalmente durante a rotina de turnê?

Nigel: Olha, eu ando muito com meus cachorros (risos). Caminho bastante e num ritmo acelerado. Não sou de academia. Também nado um pouco. E o principal: durmo sempre que dá. Principalmente como baterista, se você não dorme bem, não aguenta o tranco. Claro que é legal curtir depois do show, tomar um vinho e tudo mais, mas não dá para ir até 6 da manhã e esperar tocar à noite. No máximo até 2 e meia, aí falo “pronto, preciso dormir agora”. Com o ônibus de turnê é mais tranquilo, porque você dorme e acorda já no próximo show. Mas em turnê pela América do Sul, por exemplo, tem muita viagem de avião. Lembro de uma vez que fizemos Brasil, Argentina, Chile e Colômbia. Saíamos do hotel às 3 da manhã e às 5:30 já estávamos indo para o aeroporto — e com show à noite. Foi puxado!

Jessica: E aeroporto também é cansativo, né?

Nigel: Com certeza. Mas aí é subir no avião, tomar umas cervejas e tá tudo certo (risos).

Jessica: E você experimentou alguma técnica nova ou mudança no seu kit no álbum Hell, Fire and Damnation?

Nigel: Não, usei meu kit atual, da British Drum Company, que tenho usado há alguns anos. Mesmo o kit anterior tinha praticamente a mesma configuração. Talvez no próximo eu mude alguma coisa, mas por enquanto mantive tudo igual.

Jessica: Então vai ter um próximo álbum?

Nigel: Com certeza! Já começamos a compor, inclusive. Acho que devo gravar as baterias no fim do ano. Temos uma turnê pelo Reino Unido em novembro.

Jessica: E vão fazer festivais também no meio do ano?

Nigel: Sim, vários festivais na Europa durante o verão. Mas não me pergunta quais, porque não lembro! (risos)

Jessica: Sobre o setlist: então vai ter um panorama da carreira, com algumas do álbum novo, mas focando nos clássicos, por ser festival, né?

Nigel: Exato. Em festival, temos que tocar os clássicos. É bem diferente de uma turnê. E nem sei quanto tempo teremos de show, então talvez eu tenha que tocar tudo mais rápido para caber mais músicas! (risos)

Jessica: E como você participa da escolha do setlist, com tantas músicas icônicas?

Nigel: É bem difícil, para falar a verdade. Temos uns 23, 24 álbuns, então escolher é sempre complicado. Na última turnê europeia, decidimos tocar o Wheels of Steel inteiro, na ordem original. Tocamos algumas clássicas, depois músicas novas, e aí a gente entrava no Wheels of Steel até o fim do set. Nos encores, voltávamos com mais clássicos.

Jessica: Deve ter sido demais! Queria muito que vocês trouxessem essa turnê para o Brasil.

Nigel: Quem sabe? Se alguém convidar a gente para isso, com certeza!

Jessica: E para terminar, quer deixar uma mensagem para os fãs que estão contando os dias para te ver em maio?

Nigel: Claro! Nós também estamos contando os dias. Mal podemos esperar. Vai ser ótimo — boa música, ótimo clima, fãs incríveis… e muita cerveja boa e comida gostosa!

Jessica: E um clima ótimo também!

Nigel: Espero que não chova! Ano passado tocamos no Hellfest e choveu muito. Foi horrível.

Jessica: Fica mais difícil ainda, né?

Nigel: É um pesadelo para todo mundo. Mas os fãs ficam lá, mesmo debaixo da chuva. Eu pensaria “tô indo embora”, mas eles ficam. Merecem todos os créditos.

Jessica: Bom, é isso. Muito obrigada! Foi um prazer falar com você e a gente se vê em maio!

Nigel: Maravilha! Até lá — tô ansioso! O Saxon se apresenta no Bangers Open Air em São Paulo no dia 3 de maio (sábado), no Memorial da América Latina. Os ingressos estão disponíveis em www.clubedoingresso.com. A banda se apresenta também nos dias 4 de maio em Belo Horizonte no Mister Rock e, dia 5 de maio em Porto Alegre no Opinião.

Acompanhe a entrevista em nosso canal:

Ingressos estão disponíveis em

https://www.bilheto.com.br/comprar/2979/saxon-belo-horizonte (Belo Horizonte) e

https://bileto.sympla.com.br/event/101627/d/293958 (Porto Alegre).

Agradecimentos: Agência Taga | Marcos Franke