A gente vai sentindo o que acontece ao redor, sentimos que talvez chegou a hora de uma mudança.
Heavy Metal Online – Em certo ponto a divulgação sobre a mudança no line-up da banda com a entrada de May Puertas nos vocais e Rene Simionato nas guitarras pegou muita gente de surpresa. Afinal, quais os motivos que resultaram na saída de André Evaristo, até então, atual vocalista e guitarrista?
Amilcar – Em todo esse tempo de banda que a gente tem, 22 anos, já passaram três guitarristas e já saiu o vocal. A gente aprende com o que a gente vive e uma coisa que eu aprendi é que acontecem ciclos e as pessoas completam ciclos. Às vezes a pessoa entra achando que é aquilo que ela quer e vai ficar a vida inteira na banda. Acredito muito em complemento de ciclos.
Eu vejo no André um cara que siga a banda dele, ele tem outros projetos pessoais e sempre teve as bandas dele. Acredito que ele estava se sentindo desconfortável no Torture, de se sentir na própria banda dele. Fazemos com que quem está na banda se sinta parte dela, dono dela.
De um tempo para cá, ele começou a não se sentir tão confortável. A gente vai sentindo o que acontece ao redor, sentimos que talvez chegou a hora de uma mudança.
Heavy Metal Online – Em aproximadamente 5 anos, com André ainda na banda, foi gravado o disco “Esquadrão da Tortura”, o CD/DVD “Coup d’État Live”, além de inúmeros shows pelo país. Qual o grande legado que o Torture leva desse período, atuando como trio?
Amilcar – O maior legado sem sombra de dúvidas foi ter mostrado que a banda, independente do que vai acontecer, sempre vai continuar firme e forte. A banda e nossa música são mais forte que qualquer integrante que entre.
O disco “Esquadrão da Tortura” e a gravação do DVD e CD ao vivo “Coup d’État Live”, que vai sair entre Outubro e Novembro, demonstram isso também. Sinto um orgulho muito grande dessa fase como um trio e o “Esquadrão da Tortura” é um disco muito importante justamente por isso!
Heavy Metal Online – Quais pontos foram determinantes para que May Puertas e Rene Simionato fossem efetivados na banda? O vocês esperam deles tanto em estúdio como nas apresentações?
Amilcar – Quando pintou a ideia de voltar a ter uma voz na frente eu comecei a pensar nos vocalistas que eu conheço e quem poderia entrar somando na banda. Quem me indicou a Mayara foi a Fernanda, da banda Nervosa.
Em uma conversa comentei sobre a ideia e perguntei se ela tinha alguém em mente e a primeira pessoa que ela falou foi a May Puertas. Fui conhecer mais e ver vídeos no Youtube do Necromesis (sua ex-banda) ao vivo. Percebi que ela tinha vocais graves, guturais graves e também um vocal mais agudo, rasgado. Isso faz muito parte do que foi a tradição da banda.
O engraçado foi que eu fiquei cinquenta por cento empolgado, pois eu vi que ela poderia entrar e dar a cara dela ao som, voltado para o Death Metal que é o mais tradicional e continuar nossa tradição. Cinquenta por cento eu fiquei empolgado por causa disso e cinquenta por cento fiquei pensando: “Uma garota, meu… Nunca me havia passado isso pela cabeça antes.”
Fui pegando a ideia e acostumando! Na verdade o que importa mesmo é se o som combina, se tem a voz ideal, se tem atitude, se tem a mesma visão e a mesma paixão, independente do sexo. A banda conversou e curtiu a ideia!
“Percebi que ela tinha vocais graves, guturais graves”, Amilcar fala sobre a nova vocalista May Puertas, de 22 anos.
Já o Rene é um amigo próximo e fã da banda há bastante tempo! Já tínhamos um contato mais próximo, pois estávamos fazendo um tributo ao King Diamond juntos, fora isso somos amigos de tomar uma cerveja e conversar. Temos os mesmos gostos e a mesma cabeça em relação a musica em geral. Isso é muito legal.
Ele tem a cabeça aberta e casa com que a gente sempre foi. Em um papo pensei em convidá-lo para a banda. Ele ficou feliz, é um excelente guitarrista!
Heavy Metal Online – Olhando para trás, você concorda que a fase mais consistente da banda ainda é aquela com Vitor Rodrigues nos vocais, com excelentes discos e inúmeros shows ao longo de mais de 10 anos? Atualmente, vocês se veem com a mesma “estabilidade” dessa época ou essas mudanças são algo que, de alguma maneira, preocupam?
Amilcar – É muito louco esse lance de estabilidade, realmente são visões diferentes de quem está de fora da banda. Eu vou dar a minha visão de dentro da banda e de quem faz a banda acontecer. Eu compreendo essa coisa de achar a época com o Vitor na voz mais consistente!
É natural pensar assim porque tivemos discos com a formação repetida e, principalmente, com ele na voz. Isso dá a impressão de que tudo está certo, mas nessa época tivemos alterações de guitarristas, só que não pega tanto quanto a saída de um vocal.
Tanto que essa consistência que você diz vem de uma época onde o Vitor permaneceu na banda por 19 anos, até o “Aequilibrium”, nosso sexto disco. Nesses seis discos passaram três guitarristas.
Essa é a maior prova que mesmo mudando o componente a consistência da banda não muda. Até hoje é assim. O núcleo e a coluna vertebral da banda está firme e forte. É claro que a mudança de vocal dá essa coisa na cara de “o que vai acontecer?”. A banda nunca parou, temos 22 anos ininterruptos, ensaiando toda semana, compondo toda semana, sempre pensando em tour fora do país e shows no Brasil. Sempre foi assim a partir do momento que gravamos nossa demo em 1993.
Falo mais, eu vejo um futuro muito forte para a gente! Eu acho que a consistência maior está por vir ainda. Já conversei com o Rene assuntos que eu não havia conversado com nenhum guitarrista, algo profundo sobre a nossa música.
“Eles estavam precisando de uma banda que quer chegar em algum lugar”, Amilcar comenta sobre novos membros.
Ele está entendendo melhor como soa a nossa música e a pulsação da banda, afinal, eu e o Castor (baixo) tocamos há 22 anos juntos. Existe muita diferença de quando gravamos o “Pandemonium” se comparado com a música de agora.
Por essas e outras eu sinto que terá uma consistência maior ainda! Ainda mais com a Mayara, 22 anos, headbanger total, uma grande voz, uma grande força para alcançar o que ela quer. A entrada dos dois só nos deu mais gás!
Eles estavam precisando de uma banda que quer chegar em algum lugar e nós queremos pessoas assim. Posso dizer com todas as palavras que a próxima formação será tão forte que vai manter a verdade que a banda sempre quis passar.
Heavy Metal Online – Já deu para perceber o retorno dos fãs após o anúncio da mudança no line-up? Qual o balanço até então?
Amilcar – Só tenho a agradecer a energia dos bangers e pessoas que gostam da banda. É infinitamente maior o apoio e as pessoas que estão desejando coisas boas para a banda e que enxergam as coisas que estão acontecendo. Mesmo sem ter visto nada, mas já imaginam que a soma das qualidades vai dar um bom trabalho.
Fico feliz com toda energia e feliz com toda a repercussão! Acho bem legal ver as opiniões diversas, tem muita coisa que eu leio que bate com o que eu acho. As pessoas não são tontas e sabem o que está acontecendo. Respeito todas as opiniões, com certeza absoluta!
Espero que todos compareçam aos show para sacar a banda ao vivo nessa nova fase.
Heavy Metal Online – O Torture Squad é uma banda com mais de 20 anos na estrada e possui uma grande legião de fãs. Além disso, percebemos muita gana em tocar e que vocês realmente gostam do que fazem. Com tudo isso, o que vocês ainda não conquistaram que pretendem conquistar?
Amilcar – Tem muita coisa e estrada pela frente. Países que você não foi e sempre vamos querer tocar, países que não possuem o nosso disco distribuído e lançado. Temos como objetivo maior viver da nossa banda e da nossa música e já meio que fazemos isso.
Eu dou aula de bateria e o Castor da aulas de baixo, por exemplo. Fico muito feliz com o que eu conquistei. Eu sinto que cada vez que você alcança um objetivo você planeja outro naturalmente. Com a banda sempre foi dessa forma!
Quando sabemos que nossa música pode nos dar esse tipo de coisa, nos motiva 100, 1000 por cento para fazer tudo com a maior alegria e tesão do mundo.
Heavy Metal Online – Agradecemos a atenção. O espaço é seu, pode deixar um recado para nossos leitores!
Amilcar – Obrigado pelo interesse em fazer essa entrevista. Estamos passando por uma nova fase e podem ter a certeza que temos a nossa energia para oferecer.
Espero que todos que curtam a banda se mantenham antenados em nosso trabalho. Vejo uma cena brasileira crescendo tanto em relação as bandas como produtores de shows, sites, revistas e assessorias. Vejo muita coisa bacana acontecendo e acho que a cena tem a crescer cada vez mais, com o Torture Squad no meio disso tudo!
Valeu!