Os grandes heróis eram retratados em histórias que contavam seus feitos e assim atravessavam o tempo eternizando o seu legado para as próximas gerações.
Através da tradição oral, seus ensinamentos se espalhavam por toda a parte, e dessa forma os heróis, outrora de carne e osso, se transformavam em semi-deuses ou até mesmo deuses. Essa mesma atmosfera vivencio no Metal, uma espécie de Mitologia Metálica.
A história de nossos heróis representa suas letras; seus feitos são seus discos que atravessam gerações levando seu legado, e suas músicas são exemplos mais que perfeitos da tradição oral.
Em vida Lemmy já era considerado Deus por inúmeras razões. Sua forma de viver era de um verdadeiro rockstar. Não daqueles de boutique que se sustentam apenas em visual e ostentação sem nada para acrescentar. Lemmy era o Rock, puro e honesto como tem que ser.
Vivia no limite da trilogia sex, drugs and rock’n’roll sem nunca perder o pino da granada, e se perdia ele ainda tirava onda. Lembro que a primeira vez que vi o Motörhead foi no extinto programa de video clipes Som Pop da Tv Cultura tocando o clássico absoluto Ace Of Spades, e na hora fiquei empolgado em conhecer mais uma banda fazendo um som tão visceral com apenas três membros. Que pedrada!
Aos poucos fui conhecendo e cultuando a figura icônica de Lemmy e sua voz de vidro moído curtido em uísque. Ia na casa dos amigos para gravar os álbuns da banda em fitas k-7, e quando finalmente entrou uma grana fui correndo comprar o álbum 1916. O último com Phil “Animal” Taylor, que aliás tinha partido há um mês e meio atrás.
A música No Voices in the Sky representa para mim o sentimento de vazio no qual estamos passando. Mas essa é a vida. Sabemos que nossos heróis não viverão para sempre, mas no fundo sabemos que eles são deuses e portanto eternos.
Muitas homenagens estão sendo feitas a Lemmy Kilmister, e com certeza vão se perdurar por um bom tempo, e eu precisava escrever algumas linhas sobre esse grande exemplo de viver vida. Sim! Grande exemplo de viver! Até o último momento, até a última gota de suor Lemmy estava lá empunhando seu Rickenbacker e esbravejando no microfone toda a sua filosofia. E ainda por cima, ele conseguia ser mais mascote que o próprio mascote da banda, o “Snaggletooth”.
Enfim, ele com certeza diria pra encher esse vazio com muita bebida e brindar à vida! Num mundo onde as pessoas estão focadas em seus celulares acessando redes sociais e se fechando ao mundo real, as palavras de Lemmy soam proféticas e que só fazem por merecer a singela alcunha de… Deus!