A empolgação em torno do lançamento de “Lightning in a Bottle” era palpável, pois se esperava que o repertório pudesse capturar a essência do legado do Pentagram, grupo americano criado no início dos anos 1970 e um dos pilares do que se convencionou chamar de doom metal. Sob uma produção coesa, felizmente temos riffs pesados, passagens psicodélicas e temas líricos sombrios, como “Live Again”, “I Spoke To Death” e “I’ll Certainly See You In Hell”, que retratam bem a tumultuada jornada pessoal de Bobby Liebling.
O vocalista, hoje com 71 anos de idade, passou por momentos tétricos e desafiadores ao longo de sua vida. Ele esteve no fundo do poço, enfrentando demônios internos que ameaçavam não apenas sua carreira, mas também sua própria existência. A tragédia do consumo excessivo de drogas se aproximava, como uma sombra insidiosa, pronta para marcar mais um nome na triste lista das vítimas desta luta. Felizmente, Liebling conseguiu se reerguer e, acompanhado por Tony Reed (guitarra, Mos Generator, Big Scenic Nowhere, Woodrot, Constance Tomb e outros), Scooter Haslip (baixo, Mos Generator) e Henry Vasquez (bateria, Saint Vitus, Legions of Doom e Blood of the Sun), apresenta um relato pessoal em “Lady Heroin”, escancarando seus problemas com a heroína. “É muito difícil compartilhar o que passei, porque só quem esteve envolvido seriamente com isso sabe da gravidade. Nos anos 1990, cheguei ao fundo do poço e aquilo tirou até o meu interesse de tocar. Tornei-me um recluso, não queria mais sair de casa. Minha vida estava totalmente desarrumada”, contou certa vez em entrevista a este jornalista.
O álbum, porém, traz muito mais. Destaques para as pesadas “Thundercrest” e “Solve the Puzzle”, a psicodélica e doom “Walk the Sociopath” e uma das faixas bônus da edição especial, “Might Just Wanna Be Your Fool”. O veterano Pentagram pode até ter demorado para soltar seu debut, lançado há exatos 40 anos, mas felizmente Liebling ainda está aqui para contar histórias – músicas.
Caso curta Black Sabbath, Blue Cheer, Sir Lord Baltimore, Captain Beyond, Cactus, Jimi Hendrix, Iron Butterfly e, claro, o próprio Pentagram, não deixe passar, pois “Lightning in a Bottle” tem tudo para ser colocado junto às outras grandes obras do gênero. Mais que isso, é candidato sério a entrar em listas dos melhores de 2025. Sim, não é exagero, porque se muitos hoje em dia buscam um som retrô, aqui temos uma referência em ação.
Ricardo Batalha
