2025 tem se mostrado um ano interessante para os fãs de Metal: novos álbuns e EPs vêm marcando o calendário, e muitos dos quais já passaram por resenha aqui no site nos últimos meses. Nesse cenário, o Midgard surge com material que merece destaque. O grupo de Bauru, interior paulista, já atravessa quase três décadas no underground brasileiro e, em “Echo Fractum”, demonstra que sua trajetória é um ato contínuo de reinvenção dentro de seu próprio nicho. Formado em 1999, o Midgard sempre cultivou a herança dos eternos Sabbath e Candlemass, mas agora coloca essa tradição em diálogo com sua atual formação, que soa coesa e criativa em cada arranjo, revisitando sua própria história e trazendo ecos do passado neste curto e instigante EP.
Para quem acompanha a banda desde o início, é inevitável relembrar suas demos “Self Liberty” (2001) e “Lamúria” (2002), que já apontavam claramente o caminho que viriam a seguir. Em 2005, com o álbum “From Ashes…”, produzido por Alex Voorhees (Imago Mortis), o grupo surpreendia pela evolução.
Depois, o hiato entre 2010 e 2021 parecia jogar uma pá de terra no caixão, mas o retorno trouxe ânimos renovados e alguns singles que antecederam o álbum “Verdugos” (2024). Nesse processo, Paula Jabur Müller Demoro deixou de ser apenas colaboradora eventual — já havia gravado teclados nas demos e assinado uma letra em “From Ashes…” — para se tornar integrante fixa. Inicialmente entrou como backing e tecladista no single “Crying at the Party” (2022), mas acabou optando por se dedicar aos vocais. Com isso, a banda trouxe Miño Manzan para os teclados e passou a contar com três vocalistas: Marco Fly, Paula e Omar.
Diante deste contexto temos este belíssimo EP, que abre com uma releitura da candlemástica “The Dark Feeling of Sadness”, – original da demo “Lamúria” e presente no debut – trazendo aquela pegada criada pelos suecos e lembrando um pouco a leva de bandas Black Metal noventistas, devido aos vocais mais extremos do também baixista Marco Fly, que casaram muito bem com as linhas mais suaves criadas por Paula Jabur. Os arranjos de teclado enriquecem a atmosfera melancólica desta quase-balada e funcionam como fio condutor, recurso novamente explorado em “When Darkness Falls”. Nesta faixa, baixo e teclados se entrelaçam de forma bem construída, enquanto a participação especial de Ronaldo Simolla (Delpht) adiciona um toque nostálgico — afinal, suas linhas vocais marcaram várias faixas do debut “From Ashes…”, lançado há duas décadas. Um ciclo se encerra. Por fim, o sempre presente Alex Voorhees canta e assina a composição da música ao lado de Paula, que ficou responsável pela letra.

O EP se encerra com um inesperado cover do Kreator, da música “Black Sunrise”, presente no subestimado álbum “Outcast”, de 1997. Sim, há mais fãs desse discos por aí e não apenas da fase Thrash. A versão do Midgard carrega uma configuração própria, e diria que se o ouvinte não habituado com a discografia dos alemães – sobretudo os discos de sua fase estranha – possivelmente pensaria que a música fosse dos doomers brasileiros.
“Echo Fractum” condensa em 15 minutos um pouco do que foi a trajetória do Midgard até aqui. Estamos falando de uma banda que já abriu para um improvável show do Helloween em 2001, gravou um cover de Candlemass ainda em sua juventude e voltou à cena com vigor e muito gás em plena década de 2020. Com o novo EP a banda não precisa provar nada a ninguém: é um elo entre o passado, o presente com “Verdugos” e o futuro com seu aguardado próximo trabalho, que, espero eu, não demore a ver a luz do dia.
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