Savatage e Opeth apresentam show enérgico e especial no Espaço Unimed

Texto Filipe Moriarty

Crédito das fotos: Reinaldo Canto / Ricardo Matsukawa / Mercury Concerts

Demorou, mas veio com força bruta. Opeth e Savatage desembarcaram de novo no Brasil para provar que o tempo só aperfeiçoa o que já era grandioso. O Opeth não dava as caras por aqui desde 2019, e o Savatage… bem, desde os anos 2000, como um fantasma do passado que resolveu voltar com os amplificadores estourando. E voltaram certos: lotando primeiro o Alianz Park nos 30 Anos de Monsters of Rock e o Espaço Unimed em São Paulo, no feriado de 21 de abril de 2025, em um daqueles encontros que você conta pros netos — ou pro seu gato, tanto faz.

Opeth, fundado em 1990 na Suécia, é o tipo de banda que parece ter sido concebida durante uma tempestade elétrica no meio de uma floresta nórdica. Misturando death metal com progressivo, folk, jazz e umas ideias que parecem saídas de um sonho esquisito de King Crimson, eles são liderados pela mente de Mikael Åkerfeldt, o simpatico guitarrista e vocal do grupo.

Savatage, nascido nos EUA em 1979, é uma máquina de fazer hinos — com um pé no heavy tradicional, outro no teatro épico, e uma mão cheia de riffs clássicos. Os irmãos Jon e Criss Oliva criaram um legado com álbuns que moldaram o power/prog metal americano. Mas, neste retorno, uma ausência pesou: Jon Oliva não participou da turnê por conta de sérios problemas na coluna. A ausência foi sentida por uns… mas não completa. Chegaremos lá.

Os portões abriram às 19h e, às 19h50, as luzes caíram pra receber o Opeth — com Mikael (vocais/guitarra), Fredrik Åkesson (guitarra), Martin Mendez (baixo), Joakim Svalberg (teclados) e Waltteri Väyrynen (bateria).

Eles abriram com ”§1” do seu ultimo lançamento “The Last Will And Testament” de 2024, e “Master’s Apprentices” do clássico (Deliverance, 2002), em seguida The Leper Affinity” (Blackwater Park, 2001) — peso, técnica e aquela aura obscura que só eles têm. O grupo procurou intercalar classicos e novidades, de forma cuidadosa, enquanto público estava hipnotizado tamanha era a virtuose dos músicos ali presentes.

Enquanto Mikael já soltava suas primeiras piadas sarcásticas entre as faixas veio mais uma novidade, §7 (The Last Will and Testament,2024). O Show seguiu-se com “In My Time of Need” de (Damnation,2003) e “Ghost of Perdition” (Ghost Reveries, 2005), uma montanha-russa de brutalidade e beleza, onde o público permanecia irreativo pela beleza, sutilidade do som.

“Sorceress” (Sorceress, 2016) devolveu o groove sombrio ao set, antes da banda encerrar com a colossal “Deliverance” (Deliverance, 2002) — uma avalanche rítmica que lavou a alma da plateia.

O setlist foi muito mais longo do que no Monsters of Rock, com adições preciosas como “The Leper Affinity” e §7, e com Mikael fazendo questão de bater papo com o público entre as músicas, como quem convida 7 mil pessoas pra um café numa masmorra medieval. Um brinde sonoro pra quem apostou no side show.

Então o monstro da noite chegou!

Pouco depois das 21h10, foi a vez do Savatage entrar em cena. A formação presente: Zak Stevens (vocal), Chris Caffery e Al Pitrelli (guitarras), Johnny Lee Middleton (baixo) e Jeff Plate (bateria). Faltava Jon Oliva, e isso doeu em muita gente — mas por motivos sérios: problemas crônicos na coluna afastaram o criador da criatura. Ainda assim, ele não foi esquecido.

Assim como no Monsters, a energia era tamanha que fica impossível descrever, mas aqui foi diferente, foi muito mais imersivo, muito mais enérgico e especial! A partir de “Strange Wings”, a atmosfera no Espaço Unimed deu uma guinada elétrica — a plateia, entrou em êxtase logo nas primeiras músicas, começou a cantar em uníssono como se estivesse invocando os deuses do metal. Quando “Taunting Cobras” engatou, foi como se um raio atravessasse o público: corpos em movimento, punhos erguidos, gritos vindo das entranhas. O momento mais tocante da noite veio durante “Believe” (Streets: A Rock Opera, 1991). Enquanto a banda tocava no palco, Jon surgiu no telão tocando piano, em uma participação em vídeo gravada especialmente para a turnê. Silêncio reverente, olhos marejados e o peso simbólico de ver o Madman, mesmo ausente, ainda pulsando vivo no centro do palco.

E que set nos foi dado esta noite! 26 músicas — oito a mais que no festival. Mas nada — nada — se comparou ao momento em que os primeiros riffs de “Power of the Night” ecoaram. A explosão foi instantânea, um coro massivo rasgando o ar, como se São Paulo inteira tivesse decorado a letra nos anos 80 só pra esse momento. E em “Hall of the Mountain King”, então, o templo foi oficialmente consagrado. A energia do Savatage é algo que desafia explicação: é teatral, é pesada, é espiritual. Naquela noite, eles não só tocaram — eles incendiaram. O nível da apresentação foi elevado a um patamar quase mítico, transformando um simples show em um ritual coletivo de catarse e devoção metálica.

Nos momentos finais, Zak Stevens — já visivelmente emocionado — surge vestindo uma camisa do Brasil. Foi ovacionado, claro. A camisa ficou até o fim, nas duas últimas faixas. A conexão com o público brasileiro ali virou ritual: metal, suor e gratidão em estado bruto!

“Quem não foi… vai passar o resto da vida fingindo que foi.”