“Não seguimos uma fórmula rígida. O mais importante para nós é sentir o que a música pede e deixar que ela nos guie naturalmente” – Sophie’s Threat

Realizamos uma entrevista com a banda paulista Sophie’s Threat, revisitando o início da banda, troca de formação e evolução ao longo do tempo.

Felícia Andrade (vocal) e Tiago Carteano (baterista) responderam em conjunto às nossas perguntas. Confiram.

HMOL – Como a Sophie’s Threat surgiu e quais foram as principais motivações para formar a banda?

A Sophie’s Threat surgiu no final de 2021, em um momento em que o mundo começava a sair da pandemia. Nosso guitarrista, Ricardo Oliveira, já buscava músicos para formar uma banda autoral e acabou encontrando a Bruna (primeira vocalista da banda) através do site “Forme Sua Banda”. Por meio dela, conheceu o baterista Tiago Carteano, e a conexão entre eles foi instantânea.

Desde o início, a motivação sempre foi fazer um som honesto, que refletisse nossos sentimentos e influências, sem amarras. Queríamos criar algo autêntico, nos divertir e, acima de tudo, transmitir nossa energia através da música. Foi assim que a Sophie’s Threat nasceu: da paixão em comum por compor e compartilhar nossa arte com o mundo.

HMOL – Quais foram os principais desafios enfrentados no início da carreira e como a banda conseguiu superá-los?

No início, um dos maiores desafios foi voltar à ativa depois da pandemia. Nosso primeiro single foi composto, em grande parte, à distância, e quando finalmente conseguimos ensaiar juntos, ainda precisávamos usar máscaras e lidar com pausas inevitáveis sempre que algum integrante contraía Covid. Foi um período desafiador, mas nossa vontade de fazer música superou qualquer obstáculo.

Fora isso, o começo da banda aconteceu de forma relativamente tranquila. Conseguimos organizar a gravação e o lançamento do nosso primeiro single, Infernal Manipulation, que marcou oficialmente nossa entrada na cena e nos motivou a seguir em frente com ainda mais determinação.

HMOL – Como vocês descreveriam a evolução da banda desde o lançamento do primeiro material até hoje?

No começo, a ideia da banda era seguir uma linha mais Thrash/Death Metal, algo mais direto e sem tantas variações. No entanto, tanto Ricardo quanto Tiago sempre tiveram a vontade de explorar mais melodia sem perder o peso. Na época, isso não era totalmente possível, pois precisávamos respeitar as limitações de cada integrante.

Com as mudanças na formação e a entrada de Felicia Andrade nos vocais, tudo mudou. Ela trouxe uma versatilidade enorme, transitando com naturalidade entre vocais agressivos e limpos, o que abriu um leque absurdo de possibilidades para nossas composições. Com isso, conseguimos planejar nosso álbum de estreia de forma mais clara e consolidar a identidade da banda dentro do Death Metal Melódico, unindo peso, melodia e intensidade de maneira única.

HMOL – A banda já passou por algumas mudanças significativas de formação. Como essas alterações impactaram o direcionamento musical e as dinâmicas internas nesse inicio de carreira?

As mudanças de formação sempre têm um grande impacto no direcionamento musical de uma banda, especialmente quando envolvem o(a) vocalista. Com a Malu, nossa segunda vocalista, estávamos naturalmente caminhando para uma sonoridade mais atual, com influências de bandas na linha do Djent e o Groove metal. Chegamos a compor algumas músicas nessa linha, mas sua saída nos fez repensar tudo.

Foi um momento desafiador, pois tivemos que fazer novas audições até encontrar a vocalista certa. Quando finalmente escolhemos Felicia Andrade, percebemos que seria necessário reformular completamente o álbum. No fim, essa mudança foi essencial para definir a identidade da Sophie’s Threat, nos levando para um som mais voltado ao Death Metal Melódico, que equilibra agressividade e melodia de forma única. O processo exigiu adaptação, mas foi fundamental para chegarmos ao trabalho que realmente queríamos entregar.

HMOL – Quais momentos vocês consideram os mais marcantes da trajetória da Sophie’s Threat até agora?

Cada mudança de formação foi um momento marcante na trajetória da Sophie’s Threat. Sempre há incertezas e desafios ao buscar novos integrantes, mas quando finalmente encontramos uma formação sólida, tudo começou a fluir de forma mais natural.

Entre as conquistas mais significativas de 2024, destacamos o lançamento do nosso primeiro álbum, que consolidou nossa identidade sonora, além da oportunidade incrível de dividir o palco com o Torture Squad, uma banda que admiramos muito. Outro grande reconhecimento foi estar na votação da Roadie Crew entre os melhores do ano, algo que nos motivou ainda mais a seguir em frente com força total.

HMOL – Sobre a Sonoridade e Influências?

A sonoridade da Sophie’s Threat é resultado de uma mistura intensa de influências. Dentro da banda, cada integrante traz referências que vão desde o peso e a brutalidade de Sepultura, Arch Enemy e Torture Squad, até a complexidade progressiva de Opeth e Dream Theater, além da melodia e técnica de bandas como Angra e Crypta.

Essa diversidade reflete diretamente em nosso som: conseguimos equilibrar agressividade e melodia de uma forma marcante, criando músicas que não só impactam pela força, mas também deixam sua assinatura através de riffs envolventes, solos marcantes e linhas vocais agressivas e melodiosas.

HMOL – Como vocês definem a identidade sonora da Sophie’s Threat e o que a diferencia no cenário do metal brasileiro?

Hoje, nos identificamos como uma banda de Death Metal Melódico, mas o que realmente nos diferencia no cenário do metal brasileiro é a liberdade criativa. Desde o início, nosso foco sempre foi fazer um som honesto, sem amarras ou fórmulas pré-definidas.

Nossa identidade sonora nasce dessa combinação entre técnica, agressividade e emoção. Queremos que nossa música impacte quem ouve, trazendo peso e melodia na medida certa, sem perder a paixão que nos move. No fim, a Sophie’s Threat é sobre isso: colocar a música acima de qualquer rótulo e criar algo autêntico e visceral.

HMOL – Quais são as principais influências musicais de cada membro da banda e como essas influências se unem no som do grupo?l para criar algo único?

As influências musicais de cada membro da banda são diversas e refletem o ecletismo que encontramos em nosso som. A vocalista Felícia Andrade se inspira em grandes nomes do Rock e Heavy Metal, como Robert Plant, Ian Gillan, Dio, Rob Halford, Bruce Dickinson, além de vocalistas femininas como Leather Leone, Janet Gardner, Maryann Scandiffio, Sweet Marie Black, Ann Boleyn, Gigi Hangach, Jody Turner, Doro Pesch, e também Angela Gossow, John Tardy, Corpsegrinder, entre muitas outras referências no vocal gutural.

Ricardo, nosso guitarrista, traz influências de bandas como Opeth, Arch Enemy e Testament, que se refletem em suas composições intensas e melódicas.

O baterista Tiago Carteano tem uma gama de influências que vai de Dream Theater, Sepultura e Angra a Fear Factory, além de bateristas icônicos como Dave Grohl, Neil Peart, Igor Cavalera, Bruno Valverde, Buddy Rich e Gene Krupa, o que traz uma dinâmica técnica e poderosa para a banda.

Por fim, Guilherme, nosso baixista, tem influências de bandas como Avenged Sevenfold, Children of Bodom e The Black Dahlia Murder, que se traduzem em linhas de baixo agressivas e criativas, adicionando uma base sólida ao som da banda.

HMOL – A banda tem raízes no death metal melódico, mas incorpora outros elementos. Quais outros estilos vocês exploram em suas composições?

Além do Death Melódico a banda incorpora um pouco de Thrash Metal, Metal Progressivo, Power e Speed Metal e qualquer outra vertente que faça sentido ao sentimento das composições.

 

HMOL – Quais artistas ou álbuns marcaram o caminho criativo da banda durante sua jornada?

Alguns álbuns foram: Symbolic – Death, Doomsday Machine – Arch Enemy,  Heartwork – Carcass, Slaughter of the Soul – At the Gates, Arise e Roots – Sepultura.

HMOL – Como vocês equilibram técnica, peso e melodia na composição das músicas?

Nosso processo de composição começa, na maioria das vezes, com o Ricardo Oliveira (guitarrista), que traz ideias muito bem elaboradas, algumas já com arranjos praticamente prontos. A partir disso, cada integrante contribui com sua visão e seu instrumento, dando forma à música de maneira orgânica.

Não seguimos uma fórmula rígida. O mais importante para nós é sentir o que a música pede e deixar que ela nos guie naturalmente. Algumas faixas, como Chimera Threat, por exemplo, nasceram a partir da bateria, com os outros instrumentos sendo adicionados depois. Esse equilíbrio entre técnica, peso e melodia acontece justamente porque sabemos o que queremos – e, mais importante, o que não queremos – deixando a criatividade fluir sem barreiras.

HMOL – Sobre os Shows?

Nos shows, buscamos trazer a mesma energia e fidelidade que gravamos no disco. Como somos uma formação de apenas três instrumentistas, contamos com o auxílio de backing tracks para efeitos de teclado e metrônomos, garantindo que o som ao vivo seja o mais próximo possível do que foi registrado em estúdio. Nosso objetivo é manter a qualidade e a intensidade da música, proporcionando uma experiência autêntica e profissional para o público.

 

HMOL – Qual é o processo criativo típico da banda? Existe alguém que lidera ou é um esforço coletivo?

O processo criativo foi abordado na questão acima e quanto à gestão da banda é, sem dúvida, um esforço coletivo. Entretanto, embora  todas as decisões sejam tomadas de forma colaborativa, cada um de nós acaba assumindo um papel que se encaixa naturalmente. No aspecto administrativo, quem cuida disso é o nosso baterista Tiago, enquanto a parte musical fica com o nosso guitarrista Ricardo e nosso baixista Guilherme. Já o marketing visual e a comunicação são responsabilidades da Felicia, nossa vocalista. Essas funções não foram exatamente planejadas, mas surgiram de maneira orgânica à medida que a banda foi se estruturando. Desde então, esse modelo tem funcionado muito bem, com cada um contribuindo para o crescimento da banda de acordo com suas forças.

HMOL – As letras de vocês frequentemente abordam temas sociais e contemporâneos. De onde vêm as inspirações para escrever sobre esses tópicos?

As inspirações para nossas letras vêm de várias fontes, mas, em grande parte, das transformações que as novas tecnologias têm causado na sociedade. As letras da vocalista, por exemplo, abordam vivências pessoais, sentimentos, literatura e cultura pop em geral. Em The Future, encontramos referências a O Exterminador do Futuro, enquanto Self-Divided é influenciada por Perfect Blue e Hamlet. Já The Pied Piper traça um paralelo com o conto do Flautista de Hamelin.

Além disso, temos contribuições do baterista, cujas letras abordam temas como o impacto das séries Arquivo X em Dark Skies, o abuso de animais em laboratórios em Chimera Threat, e o poder sobre a vida e a morte em Trajectory. Em suma, a banda busca incorporar problemas e reflexões da sociedade moderna em suas músicas, criando uma narrativa que ressoe com os tempos atuais.

HMOL – Como têm sido as experiências da banda nos palcos? Existe alguma apresentação em particular que tenha sido inesquecível?

Embora ainda tenham sido poucas, nossas experiências nos palcos até agora têm sido extremamente positivas. Recentemente, tivemos a oportunidade de tocar na Avenida Paulista, e a resposta do público foi calorosa e empolgante, o que nos motivou ainda mais. Cada apresentação tem sido uma oportunidade de crescimento, trazendo mais experiência e vivência para a banda. Isso tem sido essencial para aprimorarmos nosso desempenho e energia no palco, e com certeza estamos ansiosos pelas próximas oportunidades.

HMOL – O que o público pode esperar de um show da Sophie’s Threat? Como vocês procuram criar uma conexão com os fãs durante as apresentações ao vivo?

O público pode esperar uma apresentação intensa, repleta de energia, feeling e muita qualidade técnica. Buscamos criar uma conexão verdadeira com os fãs, transmitindo nossa paixão pela música a cada nota. A interação com a plateia é fundamental para nós, e sempre procuramos deixar claro que, além de tocarmos nossas músicas, estamos ali para viver o momento junto com eles, criando uma experiência única que vai além do show.

HMOL – Sobre Enemy Within?

O título Enemy Within reflete bem o tema central do álbum, que é a luta interna e os conflitos pessoais. A faixa que dá nome ao álbum aborda a depressão e a batalha diária de quem enfrenta essa condição, capturando essa sensação de embate constante. Além disso, o álbum explora outros tipos de confrontos, como homem vs máquina, verdade vs mentira, idealização vs realidade, passado vs presente, e dominador vs dominado.

Esses temas se conectam com as experiências da banda durante a criação do disco, pois todos nós passamos por esses embates pessoais em nossas vidas, sempre enfrentando desafios e aprendendo a levantar, mesmo quando caímos. A mensagem do álbum é justamente essa: uma batalha sem fim, que todos enfrentamos de maneiras diferentes, mas que é essencial para o nosso crescimento e resiliência.

HMOL – As músicas abordam temas como intervenção humana na natureza e desinformação durante a pandemia. Como vocês equilibraram esses tópicos atuais e sérios com a intensidade e melodia características do death metal?

O Death Metal, assim como o Metal em geral, é um gênero marcado pela intensidade e força, e acreditamos que os temas abordados no álbum, como intervenção humana na natureza e desinformação durante a pandemia, casam perfeitamente com essa energia. A música tem o poder de transmitir a gravidade desses tópicos de uma forma visceral, e conseguimos equilibrar isso com a melodia e a agressividade características do nosso som, criando uma experiência musical que é tanto intensa quanto reflexiva.

 

HMOL – A faixa “The Future” levanta questões sobre o impacto da tecnologia na sociedade. Como vocês acreditam que a tecnologia tem moldado o futuro da música e o cenário do metal?

A faixa questiona o impacto da tecnologia na sociedade, e essa preocupação é refletida também em como a tecnologia tem moldado o futuro da música e do cenário do metal. A Felicia, nossa vocalista, não vê com bons olhos o uso da IA na criação artística. Ela observa, por exemplo, como a IA tem sido utilizada para gerar capas de álbuns com ícones como Deicide e Pestilence recorrendo a essa tecnologia e ela também tem sido usada para gerar músicas. Para ela, isso tira a alma da arte, transformando-a em algo sem identidade própria, sem a essência e sem criação genuína.

HMOL – A arte da capa, criada por André Meister, é visualmente impactante. Como ela traduz a essência de Enemy Within e se conecta com as temáticas exploradas no álbum?

A ideia da capa foi inspirada por uma cena do clássico O Sétimo Selo, em que o soldado joga xadrez com a Morte. Na capa, temos duas figuras representadas por caveiras como oponentes: uma feita de osso, simbolizando o lado orgânico, primitivo e humano, e a outra de material metálico, representando o mecânico, o artificial e o moderno. O fundo remete ao cosmos, à galáxia e ao Big Bang, simbolizando a criação e a vastidão do universo.

Essa imagem visualiza perfeitamente os duelos abordados no álbum, como os conflitos internos e externos que enfrentamos, como o homem vs. máquina, o humano vs. o artificial, e os outros embates que permeiam nossas letras. O objetivo da capa é transmitir visualmente essa luta, onde um vence e o outro é derrotado, assim como as batalhas que todos enfrentamos, constantemente caindo e levantando.

HMOL – O álbum foi produzido, gravado, mixado e masterizado por Michel Villares. Quais elementos ele trouxe para o processo que ajudaram a refinar a identidade sonora de Enemy Within?

Michel Villares foi fundamental para a sonoridade de Enemy Within. Ele trouxe um conhecimento técnico profundo e uma sensibilidade única para o processo, ajudando a refinar e a destacar as características melódicas das músicas, algo que sempre quisemos que fosse mais evidente. Com sua experiência e atenção aos detalhes, ele conseguiu capturar exatamente o que a banda buscava, imprimindo no álbum a intensidade e a melodia que queríamos, e contribuindo para a identidade sonora que agora temos.

 

HMOL – Felicia Andrade, atual vocalista, é muito versátil e tem uma voz super agressiva e impactante, mas também trouxe vocais limpos que deixaram o som da banda muito mais abrangente. Conte-nos como foi acharam ‘esse tesouro’ (risos) e como essa mudança no som da banda passou a ser uma alternativa?

Antes mesmo de contratarmos a antiga vocalista, já conhecíamos o trabalho da Felicia, que havia sido indicada pelo nosso produtor Michel Villares. Naquele momento, a banda estava em outra fase e optamos por seguir com a Malu nos vocais. No entanto, com a saída da Malu, decidimos ser mais criteriosos na escolha da nova vocalista e entramos em contato com a Felicia. Ela topou fazer um teste, e, sem dúvida, já era uma das favoritas. Não foi uma escolha fácil, haviam meninas talentosas na disputa também, mas sentimos que a Felicia se encaixava melhor com a sonoridade da banda, e, por isso, a escolha foi feita.

A versatilidade vocal da Felicia trouxe uma nova dimensão ao som da banda, com uma voz agressiva e impactante, mas também com vocais limpos que ampliaram nosso espectro musical. Essa mudança deu à banda uma alternativa sonora que antes não tínhamos, e isso abriu novas possibilidades para nossas composições.

HMOL – Quais são os próximos planos da Sophie’s Threat?

Os próximos planos da Sophie’s Threat incluem divulgar bastante o álbum, e estamos super empolgados com isso! Já gravamos um videoclipe, com lançamento previsto para o final de abril, e também estamos negociando novas apresentações. Quanto ao futuro, até cogitamos a ideia de lançar um EP ainda este ano, mas, por enquanto, estamos focados em fazer uma boa divulgação do Enemy Within. Uma coisa é certa: estamos ansiosos para compor, gravar e lançar novas músicas, mas por enquanto, vamos dar todo o nosso foco ao disco atual, que merece ser bem espalhado e reconhecido.

HMOL – Para finalizar, como vocês apresentariam a Sophiet’s Threat para quem aida não conhece o som da banda e o que fariam para cativar esse novo fã a se tornar um seguidor de seu trabalho?

O Som da banda é Intenso, Passional, Autêntico e Verdadeiro.