Conhecer, por acaso, a banda Magistry e o álbum “The New Aeon” foi uma experiência interessante e é uma das tarefas mais gratas quando se trata de garimpo metálico e jornalismo musical. Conhecer novas bandas num cenário às vezes tão impregnado de lançamentos medíocres nos deixa satisfeitos quanto ao rumo do Metal no Brasil. Aliás, é de se salientar a quantidade de ótimos lançamentos neste ano, e olha que se passou apenas metade de 2025. Que o semestre que se inicia seja tão bom quanto o que passou.
“The New Aeon” é um daqueles álbuns difíceis de rotular. Ao mesmo tempo em que se ancora nas estruturas do Metal sinfônico e gótico europeu, com referências a nomes como Theatre of Tragedy, Epica, Sirenia, Tristania e até mesmo um pouco de Nightwish, o disco foge dos clichês do gênero e oferece aos ouvintes um repertório coeso e imerso em uma narrativa bastante particular (e peculiar).
A banda iniciou suas atividades muito recentemente, em 2022, e desde o início apresentou uma proposta ousada: unir a sofisticação sinfônica com filosofia esotérica. E isso fica evidente já na arte da capa, uma belíssima ilustração de estilo alquímico repleta de simbologias como o dragão-guardião, pilares em chamas, brasões, luas e sinais de transmutação. Um combo completo. Tudo isso não é mero enfeite: todos estes elementos caminham juntos ao longo do disco e se tornam um só. É como se todos os elementos metálicos aqui encontrados (Death, Gothic, Symphonic) se unissem e se transformassem em ouro. E é isso que “The New Aeon” é, ouro puro. Nicolas Flamel certamente ficaria feliz com essa transmutação. E quando estamos falando em alquimia não estamos falando de Harry Potter nem da novela “Fera Ferida” (desenterrei essa, hein?…

Cada faixa apresenta suas próprias características. “Alchemy of the Inner World”, por exemplo, é quase um manifesto do álbum, com orquestrações densas e vocais que alternam do suave feminino de Lya Seffrin ao gutural do também guitarrista Leonardo Arentz, tratando da transformação pessoal como se fosse uma operação alquímica. “Black Abyss” mergulha fundo no peso e versos que tratam de confronto interno, envolta numa sonoridade calcada em melodias egípcias e excelentes linhas vocais. “While”, por sua vez, é uma das mais delicadas e dolorosas do disco, com um clima que lembra muito o Gothic Metal da década de 1990.
O que torna “The New Aeon” especial é sua busca por uma sonoridade rica e atraente. Os arranjos orquestrais, que incluem harpa, cordas reais e percussões sinfônicas, não são apenas camadas de fundo para preencher as músicas, mas parte orgânica das composições. Não sei como a banda executará tudo isso ao vivo, mas, deve ser uma experiência interessante.
A produção, assinada por Maiko Thomé de Araújo no estúdio Sonata Prima, respeita tanto os momentos intimistas quanto os de extremidade. O resultado é um disco que equilibra feeling e técnica, uma combinação que muitas vezes parece se perder no Metal sinfônico contemporâneo, onde tudo soa apenas embolado e sem clareza. “The New Aeon” é uma autentica joia rara.
O Magistry surge como um nome promissor, que pode não só renovar a cena como também levar sua música a palcos internacionais, ainda mais considerando a recepção positiva que o álbum tem obtido. É um nome a ser conferido e lembrado e que dará o que falar, basta conferir o novo single, “Divine”, lançado em junho, que já mostra o grupo trabalhando em novas composições.
Track list:
- Astrum Argentum
- The New Aeon
- Alchemy of the Inner World
- Blow Out the Candles
- Swing to the Circles of Time
- Black Abyss
- A Piece of Me
- The White Shores
- Stand
- While
- Lost Paradise
Confira o álbum no Spotify:
Confira o single no Spotify:
